O Banco Central, sob o comando de Gabriel Galípolo desde janeiro deste ano, está esbanjando conservadorismo. Nas projeções macroeconômicas, a autoridade monetária apresenta mais ressalvas do que o Ministério da Fazenda e até mesmo que o mercado financeiro.
No Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado ontem, o BC reduziu de 2,1% para 2% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Já as projeções recentes da Fazenda e a mediana das estimativas do mercado, coletadas pelo Banco Central no boletim semanal Focus, são mais otimistas, de 2,3% e de 2,16%, respectivamente.
Para o PIB de 2026, o relatório do BC, que substituiu o antigo Relatório Trimestral de Inflação (RTI), prevê avanço de 1,5%. É a primeira vez que o BC divulga a projeção da atividade econômica do ano que vem. As previsões da Fazenda, de 2,4%, e as do mercado, com mediana de 1,8%, para o PIB do ano que vem, também estão estão mais otimistas do que as do BC. Quanto à inflação, a autarquia comandada por Galípolo segue prevendo a inflação acima do centro da meta, de 3%, até o primeiro trimestre de 2028.
Mesmo com previsões mais pessimistas para a atividade do que o mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou, na semana passada, que pretende manter a conduta do gavião (hawkish) em vez do pombo (dovish) no combate à inflação e reafirmou na ata que a taxa básica da economia (Selic) deverá continuar no patamar atual, de 15% ao ano, por um “período bastante prolongado”.
Mercado de trabalho
Um dos principais motivos para as estimativas do BC para o PIB e para a manutenção da Selic no patamar atual, segundo o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, é a surpresa positiva no mercado de trabalho, que segue aquecido e com o desemprego no menor nível da história, de 5,7%, em julho, “dado acima do esperado pelo BC”.
O diretor destacou, também, que a ligeira redução da estimativa de crescimento do PIB deste ano também decorre dos efeitos, ainda incertos, do aumento das tarifas de importação pelos Estados Unidos “bem como de sinais de moderação da atividade econômica no terceiro trimestre”.
Durante a apresentação a jornalistas do RPM, ontem, Galípolo afirmou que segue “convicto” com a decisão do colegiado, apesar das críticas ao atual patamar de juros, inclusive a do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que ele classificou como muito educadas, “um luxo”.
O presidente do BC afirmou que o BC ainda segue “dependente de dados” para mudar a atual política monetária. “Vamos seguir observando se a taxa de juros está em um patamar contracionista o suficiente para produzir a convergência da inflação para a meta”, disse o banqueiro central. De acordo com ele, “o mercado de trabalho segue resiliente há quatro anos”, e o desemprego tem ficado em patamares menores do que o esperado pela autoridade monetária. “Com um cenário com inflação fora da meta e desemprego baixo, não é conforto para a situação, mas convicção de que o caminho é esse que deve ser feito”, disse. Ele acrescentou que o pior cenário para um trabalhador é a combinação de inflação elevada e queda da renda em vez de juro alto.
Galípolo alegou, ainda, que é “legítimo” haver divergências entre o BC e o Ministério da Fazenda em relação à condução da política monetária e voltou a elogiar as críticas feitas com “delicadeza” de Haddad e do secretário do Tesouro, Rogério Ceron.
O economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, avaliou que o RPM, em termos gerais, reiterou a avaliação do cenário macroeconômico base contida na declaração da ata da reunião da última reunião do Copom, “com riscos tanto de alta quanto de baixa ainda caracterizados como mais elevados do que o habitual”. Na avaliação dele, a previsão de inflação mais hawkish do Copom “é sustentada por uma perspectiva de crescimento relativamente dovish, o que implica que um crescimento mais firme do que o esperado levaria a previsões de inflação ainda mais elevadas”.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press)