Parauapebas (PA) — A atuação feminina na preservação ambiental e cultural é notável no município de Parauapebas, no Pará. Entre diversos projetos artísticos liderados por mulheres, o Correio teve a oportunidade de conhecer dois.
O Centro Mulheres de Barro é uma cooperativa composta por ceramistas, instrutoras, e gestoras culturais, que colocam nas peças feitas com a argila padrões de artefatos arqueológicos escavados na região. Por sua vez, a associação Preciosa Amazônia produz biojoias utilizando sementes, cascas, folhas, e outros materiais naturais encontrados na floresta. O Centro Mulheres de Barro de Exposição e Educação Patrimonial é administrado pela Cooperativa dos Artesãos da Região de Carajás, com o incentivo da Lei Rouanet e da Vale.

A cooperativa conta, sobretudo, com mulheres, e tem uma galeria de exposição, loja, ateliê e espaço educativo, que também recebe crianças. Padrões exclusivos No ateliê, uma exposição conta como o trabalho efeito, a argila de supressão é retirada em obras e transformada em peças ilustradas com referências arqueológicas. Para dar cor a cada obra, as artistas usam pigmentos minerais de ferro, cobre e manganês.
Atualmente, o Mulheres de Barro é uma referência regional e participa ativamente da promoção da cultura do município. “A nossa cerâmica é única, pois utiliza grafismos provenientes de uma pesquisa arqueológica realizada na floresta Tapirapé -Aquiri. É uma cerâmica Tapirapé-Aquiri, pelo fato de ter sido encontrada nessa floresta protegida. Esse grafismo é exclusivo de nossa produção”, detalhou » Isabella Almeida* Enviada especial Economia solidária Arte, impacto social e inspiração ancestral Sandra Santos, presidente e designer da cooperativa.
Segundo Sandra, a cooperativa é um patrimônio da cidade, referendado pela arqueologia. “Estamos aqui produzindo, comercializando e divulgando esse patrimônio arqueológico da região, para a cidade e para o mundo, por meio das exposições que realizamos, da loja online e do nosso site. Assim, fica acessível para quem quiser conhecer essa cultura ancestral, que tem uma datação de 6 mil anos e que, hoje, reformula a produção artística e beneficia outras pessoas, principalmente mulheres, que atuam no artesanato.”
Natural do Maranhão, Ana Cláudia Xavier Pereira se mudou para Parauapebas em 2021 e começou suas atividades no Centro em 2023, quando fez algumas aulas. “Gostei do curso e estou aqui fazendo as peças. Eu faço a pintura, o encaliçamento, às vezes faço o grafismo também. Essa é a minha renda atualmente.”
Estilos únicos
A Preciosa Amazônia é uma iniciativa que usa materiais vegetais, como madeira, sementes e cascas, para criar peças biodegradáveis. São 11 mulheres com 11 personalidades que se apresentam de formas diferentes em cada joia produzida e vendida. “Estamos aqui para fortalecer o empreendedorismo feminino e o empoderamento e principalmente, fazer isso mantendo a natureza em pé. O maior objetivo é fazer a coleta de uma semente hoje e ano que vem, no período de floração, ir ao local ver que a árvore continua ali, do mesmo jeito”, reforçou Sandra Brasil, uma das artistas da associação, que deve se tornar uma cooperativa em breve.
Força e capacidade
Luciene Padilha, outra artesã do coletivo, detalha que o grupo surgiu no período da pandemia, quando as mulheres estavam em casa e se sentiam deprimidas. “Quando o isolamento terminou, pensamos se o projeto terminaria ali, ou se continuávamos, seguimos porque o coletivo é mais forte. Queremos contar nossa história, mostrar nossa identidade, cada peça revela as superações e os medos.”
“Com as parcerias, estamos conseguindo nossos equipamentos para beneficiar as sementes. O nosso objetivo é ir mais para frente e sabemos que juntas temos um potencial maior. Gostaríamos de dizer para as mulheres que estão em casa e que não se acham capazes, que elas são, sim. A criatividade vai chegando enquanto você está fazendo. A natureza é tão maravilhosa, que sentimos uma energia diferente”, destacou Padilha.
*A repórter viajou a convite da Vale
Por Isabella Almeida do Correio Braziliense
Foto: WASHINGTON ALVES / Reprodução Correio Braziliense