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Alexandre de Moraes acelera processo contra Eduardo Bolsonaro no STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu seguir com o...

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu seguir com o processo criminal contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sem notificação pessoal do deputado federal, que vive nos Estados Unidos desde março.

Segundo Moraes, Eduardo tem criado dificuldades para ser notificado, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na semana passada por coação no curso de processo, por supostamente ter articulado sanções contra o país e autoridades brasileiras, numa tentativa de influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado.

“Além de declarar, expressamente, que se encontra em território estrangeiro para se furtar à aplicação da lei penal, também é inequívoca a ciência, por parte do denunciado Eduardo Nantes Bolsonaro, acerca das condutas que lhe são imputadas na denúncia oferecida nestes autos, sobre a qual também se manifestou por meio de nota divulgada na rede social X (antigo Twitter)”, escreve Moraes, na decisão.

“Dessa maneira, não resta dúvidas de que o denunciado, mesmo mantendo seu domicílio em território nacional, está criando dificuldades para ser notificado”, completa o magistrado.

Conforme a decisão de Moraes, Eduardo deverá ser agora notificado via edital, com a comunicação oficial da denúncia sendo publicada em algum veículo de comunicação público. O deputado terá, então, 15 dias para apresentar sua defesa prévia no caso.

Já o empresário e influenciador Paulo Figueiredo, também alvo da denúncia da PGR e que tem endereço nos EUA, deverá ser notificado via carta rogatória, instrumento de cooperação jurídica internacional, que pede a outro país o cumprimento de uma diligência, como a citação de parte que mora no exterior.

Moraes determinou ainda o desmembramento do processo contra Eduardo e Paulo Figueiredo, para possibilitar o processamento da denúncia separadamente para cada um dos denunciados.

Eduardo e Paulo Figueiredo foram denunciados em 22 de setembro pela PGR sob acusação de terem tentado influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado.

O ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma tentativa de golpe no fim de 2022.

“Ambos os acusados, repetidas vezes, conforme visto, apresentaram-se como capazes de obter sanções no exterior – que obtiveram de fato –, de extrema gravidade nas suas consequências, tanto para a economia nacional como para os julgadores do caso em que Jair Bolsonaro, juntamente com Paulo Figueiredo e outros, aparece como responsável por crimes contra o Estado Democrático de Direito”, escreveu a PGR na denúncia apresentada ao STF.

“Apresentaram-se como patrocinadores dessas sanções, como seus articuladores e como as únicas pessoas capazes de desativá-las. Para a interrupção dos danos, objeto das ameaças, cobraram que não houvesse condenação criminal de Jair Bolsonaro na AP 2.668”, completou a procuradoria.

Em nota, Eduardo e Figueiredo classificaram a denúncia como “fajuta” e disseram viver sob a jurisdição americana, que garantiria a eles o direito de “peticionar ao governo para corrigir abusos e injustiças”.

“?A mera criminalização do exercício de um direito constitucional em outra jurisdição configura prática de repressão transnacional”, escreveram Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, na nota.

“Quem adere a esse tipo de conduta sujeita-se às mesmas penalidades e aprofunda ainda mais a crise entre Brasil e Estados Unidos”, completaram os acusados.

A denúncia da PGR, assinada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ocorreu no mesmo dia em que o governo americano anunciou sanções contra a esposa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Viviane Barci de Moraes sofreu sanção, assim como o ministro, sob a Lei Magnitsky, uma das mais severas disponíveis para Washington punir estrangeiros que considera autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção, conforme publicado no site do Tesouro americano.

Também foi incluído na lista o Lex – Instituto de Estudos Jurídicos, empresa mantida por Viviane e os três filhos do casal: Gabriela, Alexandre e Giuliana Barci de Moraes, com sede em São Paulo.

Em outra frente, os EUA revogaram o visto do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e mais seis autoridades e seus familiares diretos, conforme uma fonte ligada ao Departamento de Estado americano confirmou à BBC News Brasil, são elas:

  • Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Moraes;
  • José Levi, ex-procurador-Geral;
  • Benedito Gonçalves, ex-juiz eleitoral;
  • Airton Vieira, juiz auxiliar e assessor do STF;
  • Marco Antonio Martin Vargas, ex-assessor eleitoral;
  • Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, assessor judicial de alto escalão.

O que acontece agora

Após a manifestação das partes, o caso deverá seguir para a análise da Primeira Turma do STF — formada por, além de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino.

Se a maioria dos ministros da turma aceitar a denúncia, os acusados se tornam oficialmente réus e começa um processo criminal contra eles.

Após o processo correr e serem apresentadas as alegações finais da acusação e da defesa — ou seja seus argumentos finais —, a Primeira Turma decide se condena ou não os acusados.

As provas listadas pela PGR

Na denúncia, a PGR lista uma sequência de fatos que comprovariam a ação de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo para tentar influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro.

“Antes mesmo de as manifestações caracterizadoras da coação, objeto desta denúncia, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo se dirigiram aos Estados Unidos, para ali se dedicarem, desde pelo menos janeiro de 2025, a explorar o relacionamento próximo que mantêm, não apenas com integrantes do primeiro escalão do governo norte-americano, mas também com assessores e conselheiros diretos do Presidente da República daquele país”, escreve a procuradoria.

“Os denunciados ameaçavam as autoridades judiciárias e de outros Poderes com a promessa de que conseguiriam de autoridades norte-americanas sanções dispostas para dificultar e arruinar suas vidas civis, mesmo no Brasil, se o processo criminal não tivesse o fim que desejavam.”

A PGR cita postagens feitas por Paulo Figueiredo já na época da posse de Trump, em janeiro de 2025, quando os dois denunciados viajaram aos EUA para participar do evento.

A procuradoria-geral cita ainda reportagem da BBC News Brasil de fevereiro, que noticiou que Eduardo conduzia campanha para que autoridades americanas exercessem pressão política sobre Moraes.

A reportagem, de 25 de fevereiro, registrou que, desde a posse de Trump, Eduardo havia realizado três viagens consecutivas ao país, estando uma quarta já programada para a semana seguinte. “Novamente, os relatos [da reportagem] vieram a ser confirmados meses mais tarde”, escreve a PGR, na denúncia.

Na reportagem, Paulo Figueiredo era citado como sendo o intermediário entre o parlamentar e agentes econômicos e políticos americanos na execução da estratégia para impedir a condenação de Jair Bolsonaro.

A PGR observa que, após as ameaças de Eduardo e Paulo Figueiredo, em 9 de julho, o governo americano impôs as tarifas de 50% contra produtos brasileiros.

“Foi imposta o que se viu desde logo como a mais grave sanção econômica irrogada por uma nação estrangeira ao Brasil em sua História recente”, diz a procuradoria.

“O ineditismo da sanção econômica realça a sua ligação com as intensas e constantes gestões dos denunciados junto às mais elevadas autoridades norte-americanas”, considera a PGR.

A procuradoria destaca que Eduardo concedeu entrevistas a veículos de imprensa nacionais e estrangeiros, defendendo sua atuação na imposição das tarifas.

Aqui, a PGR cita uma entrevista concedida por Eduardo Bolsonaro à BBC news Brasil, em que o deputado disse que brasileiros entendiam que o tarifaço de Trump seria “um sacrifício a ser feito”.

Em 18 de julho, os Estados Unidos anunciaram a suspensão de vistos americanos de oito dos onze Ministros do STF, observa a PGR.

Em seguida, Eduardo publicou em sua conta no X (antigo Twitter): “De garantido só posso falar uma coisa: tem muito mais por vir”, destaca a procuradoria.

No mesmo dia, foram anunciadas as sanções contra Moraes pela Lei Magnitsky.

“As intimidações tinham o propósito de incutir temor no magistrado e instaurar, entre as demais autoridades julgadoras, um ambiente de intenso e molesto desassossego, propício a levá-las a agir em oposição ao relator e em consonância com as pretensões ilícitas dos denunciados”, observa PGR.

A entrevista de Eduardo à BBC News Brasil é citada novamente na denúncia, pois nela Eduardo já sugeria a ampliação das sanções pela Lei Magnitsky a outras pessoas, para além de Moraes, o que acabou se confirmando nesta segunda-feira, com as sanções contra a esposa do ministro e a empresa dela e dos filhos do casal.

Confira as reportagens da BBC citadas na denúncia da PGR:

Com informações de Leandro Prazeres, enviado da BBC News Brasil a Nova York

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Arquivo pessoal

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