Desde janeiro de 2024 ultrapassamos o sinal de alerta dos 1,5Cº acima da média histórica e ficamos mais vulneráveis a eventos climáticos negativos. O planeta vem sofrendo com a aceleração crescente da elevação de sua temperatura média. Disso decorre que os eventos climáticos negativos ocorram com menor frequência, em maior quantidade e crescente intensidade.
Paradoxalmente aos propósitos da COP – 30 e quase simultaneamente, ocorreu o tornado sem precedentes de Rio Bonito do Iguaçu com uma fúria inimaginável de ventos com velocidade acima dos 350km/h. A natureza mostrou a seriedade que deseja para as deliberações desse evento.
Isso exige que a humanidade. responsável por esse desequilíbrio, adote soluções cada vez mais rápidas e quantitativamente adequadas para a descarbonização da atmosfera já que o gás carbônico é o principal responsável por isso. Ainda estamos perdendo essa luta para ao menos estabilizar o aumento mundial da temperatura. Isso só será possível de ser alcançado com múltiplas ações, das várias áreas componentes da vida humana no globo terrestre.
Absorver a maior quantidade de carbono da atmosfera pelo maior período possível. Eis o mote.
Pela diminuição da emissão vinda do total das atividades humanas, mudando padrões de consumo e produção. Ainda distante de se ter essa atitude como diretriz geral. Resta então como resposta de maior eficiência, impedir a diminuição da absorção do carbono que o planeta já faz. Isso diminuição da massa florestal existente. Exploração predatória da madeira e demais recursos florestais, incêndios e desmatamentos, visando mudanças do uso do solo.
Hoje a COP 30 prioriza a atenção para este ponto, a preservação das florestas tropicais, onde se destaca a Amazônia. É aqui numa de suas particularidades que aparece a oportunidade de ação de grande impacto a curto prazo para a absorção e fixação do carbono da atmosfera. Trata-se de trabalhar a grande formação de bambu associada a floresta que ocorre em 180 000 km2 deste bioma. Área dividida igualmente entre a Amazônia Sul-ocidental brasileira e a mesma no Peru. Para o planeta interessa os benefícios totais que podem ser obtidos desta área na sua totalidade. As fronteiras nacionais seriam detalhes a serem superados. Não?
O bambu é ainda praticamente desconhecido no mundo ocidental e os benefícios ambientais que presta no mundo inteiro. Desempenho de captação de carbono atmosférico superior às espécies arbóreas, facilidades de fixação deste, de ser matéria prima substitutiva de eletrointensivos como o aço, o alumínio e o plástico, para celulose, papel e tecidos, assim como de madeiras duras poupando a derrubada de florestas. Notabiliza-se também como fonte renovável de energia, sendo seu poder calorífico similar ou superior ao das madeiras e ainda, matéria prima para o etanol que pode permitir produtividade superior por hectare á da cana-de-açúcar.
Por ser também alimento -faz parte da segurança alimentar de vários países – não deixa de contribuir significativamente contra o aquecimento global, uma vez que se gasta muito menos insumos e energia para ser produzido.
Como se isso só não bastasse, presta com alta eficiência uma grande variedade de serviços ambientais ou ecossistêmicos.
No caso desta formação na Amazônia, a maior do mundo em bambus, os benefícios imediatos seriam obtidos a partir do seu manejo adequado. Por um extrativismo sustentável que poderia ser complementado pelo plantio das variedades existentes, com propósitos de cumprirem algumas das funções desejadas que pode prestar. P.ex. combater o desmatamento; recuperar áreas florestais degradadas; proteção de áreas com o direcionamento de fluxos d´água; fitorremediação de áreas contaminadas pelo mercúrio; tratamento de águas residuais (esgotos) de comunidades e de agroindústrias etc.
Assim se evidencia que os serviços ambientais do bambu não se restringem a formação amazônica e que poderiam ser obtidos concomitantemente ao plantio do bambu em qualquer área do país, do mundo.
Em face da emergência de termos agora de fazer voltar para baixo dos 1,5 Cº a temperatura média do planeta e, considerando a importância de alertar os participantes sobre o impacto positivo que o bambu amazônico pode nos dar na luta contra a descarbonização, a seguir se descreve exercício para permitir a visualização de uma ordem de grandeza desse impacto. E ainda, visando bem informar aos negociadores da COP-30 para que a oportunidade aqui levantada não seja ignorada e /ou adiada. Uma ordem de grandeza geral em face da precariedade de informações para se construir uma abordagem científica. Pretende-se que esta imagem sirva para a tomada de decisão de envidar esforços para o estudo dessa formação. De viabilizar numa próxima etapa o dimensionamento numa base cientificamente aceitável.
Primeiramente definir que o universo contíguo da formação compreende a totalidade de 180.000 km2. Fazendo a extrapolação dos estudos existentes para o estado do Acre, vê-se que a ocorrência do bambu nessa formação se situa entre 40% á 50% da sua superfície. Tomando-se ainda estudos internacionais sobre a quantidade de carbono que cada uma das espécies de bambu selecionadas pode absorver, constata-se que escala vai de 50 a 410 t CO2 / há / ano. No topo dessa lista se situa o sulamericano “guadua angustifólia”
Todas as espécies ocorrentes na área em foco pertencem ao gênero “guadua”. São elas o guadua Weber Boveri, o guadua Sarcocarpa, o guadua Superba Huber, o guadua Chaparensis e o guadua Lynnclarkiae. Considerando os portes dessas espécies e extrapolando a informação anterior do guadua angustifólia, pode-se fazer uma estimativa bastante conservadora estipulando considerar um poder de captação de CO2 de 200t/há/ano na média dos bambus ocorrentes.
Considerando-se 90.000 km2 (metade da formação) e os dados de superfície de cobertura com bambu em 40% e 50%. tem-se para os totais com bambus de 72 e 90 milhões de hectares respectivamente. Tomando-se a absorção de carbono na ordem de 200t CO2 / há /ano, tem-se também respectivamente 14.400 milhões / t CO2 /ha /ano e 18 000 milhões de t/CO2. Por esses dados se pode dizer que os bambus dessa formação captam anualmente entre 2,8 e 3,6 bilhões de toneladas anos de carbono. Em 20 anos seriam 56 e 72 bilhões de toneladas.
Esses números significam a performance natural e atual dos bambus dessa formação para a descarbonização. O manejo adequado que se propõe pode fazer pode ainda acrescer 30% a estes volumes. Percentual que não define se isso inclui a fixação do carbono e tão pouco os ganhos de carbono ao longo de sua cadeia produtiva.
P.ex. a sua fixação pela transformação dos bambus recolhidos em “biochar” que lhe garantiriam máximo desempenho e valorização no mercado internacional de créditos ou aqueles advindos da substituição de combustíveis fósseis pelo gás processado do bambu.
Enfim isso permite afirmar que potencial da capacidade dessa formação capturar carbono seria respectivamente de 840 milhões de toneladas de CO2 e de 980 milhões de toneladas de CO2, considerando-se 20 anos.
Que outra tipologia permitiria se obter tamanho ganho de descarbonização com um plano de manejo adequado, garantidor da plena sustentabilidade da ação extrativa e simultânea geração de riquezas de forma contínua?
Espera-se que os integrantes da COP – 30 tomem consciência deste ativo hoje invisível e avaliem se vale ou não investir na aquisição do conhecimento e demais meios para obter os seus benefícios climáticos e de quebra econômicos e sociais. Em suma tirar a invisibilidade deste ativo.
E que adotem a atitude de o fazer agora nesta COP – 30. Afinal essa formação de bambus é integrante, uma parte de um todo – da floresta amazônica. Os fundos para manter a floresta em pé com certeza seriam muito bem utilizados fazendo isso. Afinal o aproveitamento do bambu é sempre feito coma manutenção da planta viva.
P.S. – Embora inegável a importância da Amazônia no processo de descarbonização e de tomada de decisões para mantê-la preservada, as discussões, decisões a ações contra as mudanças climáticas da COP -30 não se limitam a ela.
Assim é importante informar que o cultivo do bambu em qualquer parte, pode também somar grandes cifras de absorção de gás carbônico da atmosfera. E ainda acrescer inúmeros benefícios ambientais se devidamente planejados.
Assim esses cultivos podem ser pensados de forma a captar recursos do mercado internacional de créditos de carbono conforme exemplos já consolidados no mundo. Isso pode vir a ter significado decisivo para a obtenção de financiamento para seu plantio, com o devido tempo de maturação necessário para a obtenção do necessário retorno financeiro. Se ainda plantado com a concomitância de busca de outros serviços ambientais, podem ser criados outros tantos benefícios desejados. P.ex. com a cultivo em faixas acima das matas ciliares e logo abaixo do cultivo de grãos, poderiam ser obtidos benefícios como: estabilização do solo e controle da erosão, do assoreamento e da poluição causada pela eutrofização cursos d´água de superfície pela lixiviação dos fertilizantes das lavouras; se plantado adequadamente para tratamento de esgotos de assentamentos humanos e de instalações de agronegócios, a despoluição dos corpos d´água: se plantados em faixas intercaladas nas plantações para quebrar os ventos e proteção das lavouras da faladas adversidades climáticas. Em ainda com pleno aproveitamento de suas finalidades comerciais, como alimento (brotos), ou “biochar”, ou carvão para energia térmica ou elétrica, ou como substitutivo da madeira dura para diversos fins, etecétera e tal. Ou seja, ganhos de créditos de carbono, ganhos na qualidade dos ambientes locais e cursos d’água, no uso de energia verde e não de origem fóssil, ganhos com os produtos da transformação da matéria prima, o bambu.
Qual a grandeza do impacto no combate às adversidades climáticas podriam ser obtidos? Qual o cenário para o cultivo do bambu no Brasil?
Veja-se. O bioma da floresta amazônica no Brasil soma 49, 3 % do território nacional. Quase a metade deste com superfície de 8.516.000 km2. Hoje utiliza cerca de 60 milhões de hectares (ou 60.000 km2) com lavouras temporárias. E com a agropecuária uma superfície mais expressiva de cerca de 850 milhões de hectares (850.000km2). Temos ainda uma superfície próxima a 9 milhões de hectares com floresta plantada. Ou seja, não falta território para se fazer o controle ambiental com a plantação criteriosa do bambu, ainda para descarbonizar expressivamente e gerar uma economia de maior grau possível de sustentabilidade e bem-estar social.
Especulando, para somente se ter uma ideia de ordem de grandeza, se pode tomar números da China de superfície com bambu, nativos ou plantados, que atinge a 8.500 000 de hectares e gera para o país uma riqueza superior a US$ 30 bilhões/ano.
Caso se estipule a meta de em 20 anos chegarmos a mesma superfície com o plantio de bambus e considerando o número adotado anteriormente de 200 t CO2/há/ano para a média das espécies plantadas se alcançaria ao final de cinco anos após o plantio, uma captura anual de 1,7 bilhões de toneladas de carbono. Isso geraria quando atingido o número do cenário, uma captura de 34 bilhões de toneladas de carbono a cada 20 anos.
Número bastante expressivo para um prazo bastante reduzido para iniciar a obtenção de benefícios. Geralmente os bambus amadurecem para seu uso final em 5 ou 8 anos, dependendo da espécie. Importante observar para efeito de descarbonização, que o bambu já ao final do segundo ano de plantado produz números merecedores de contabilização.
A pergunta que se faz é: vale a pena ou não investir no cultivo do bambu?
O Brasil tem a vocação ambiental e climática para esse cultivo. É o principal país fora da Ásia em número de ocorrências do bambu. O rol de investimentos necessários tem características muito similares aos já mencionados para a formação amazônica.
Investimento que hoje pode contar com recursos do mercado internacional de créditos de carbono, tanto do oficial quanto do voluntário. Estruturar a entrada nesse mercado é neste momento o fator estratégico diferenciador e deveria ser prioridade absoluta para vivificar a economia do bambu no país. Isso se afetar os investimentos necessário nos demais componentes.
Por: Alejandro Luiz Pereira da Silva
Foto: Victor Marçal







