Os ipês voltam a florir Brasília. Por entrequadras e avenidas, as árvores transformam a paisagem e chamam a atenção de quem passa. As copas cobertas de flores contrastam com o céu e viram cenário perfeito para fotos, caminhadas e contemplação. Símbolos do Cerrado e parte da identidade visual da capital, os ipês não são apenas beleza, mostram a força da vegetação nativa, mesmo em meio à seca e ao concreto.
Aa professora Juliana Batista, de 35 anos, sempre acompanha o florescer dos ipês. “Todo ano, fico ansiosa pela época dos ipês, porque deixam Brasília muito mais bonita”, destaca. A cor favorita dela é o roxo, justamente a que domina a cidade neste momento.
Para ela, o Setor Bancário é um dos lugares mais especiais para observá-los. “As flores trazem uma leveza, uma paz para o lugar em que geralmente passamos correndo em meio à rotina”, diz.
A baiana Edilene Borges, 43, mora em Brasília há 12 anos e se encanta com os ipês. “Estão todos muito lindos. Aqui na 911 Sul, estamos esperando florescer um pouco mais, mas, mesmo assim, já traz uma cor diferente para cá”, avalia. Diarista, Edilene lembra com entusiasmo da primeira vez em que viu um ipê florido na cidade. “Foi um amarelo e fiquei deslumbrada, completamente apaixonada”, recorda. Entre as cores preferidas, ela destaca também o branco. “Quando está florido perto da rodoviária, o cenário fica ainda mais lindo”, afirma.
“Desde criança sou apaixonada por flores e os ipês mexem com o coração do brasiliense, eu me sinto até mais inspirada com tudo florido assim”, brinca Bruna Lorrany, 34, brasiliense de nascença e que tem carinho especial pelos ipês. “Os amarelos me chamam atenção quando estou perto do Lago Paranoá, além desses aqui do Eixo, que me encantam demais”, comenta.
A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) explica que o início da floração dos ipês está diretamente ligado a fatores ambientais, como luz do dia, temperatura, umidade do ar e disponibilidade de água e nutrientes no solo. Esses marcadores ambientais funcionam como gatilhos para o florescimento. Em alguns anos, quando essas condições variam, as árvores podem florir e frutificar mais de uma vez, mantendo folhas, flores e frutos simultaneamente.
O processo de queda das folhas está relacionado ao fim do período de chuvas. Nessa fase, as plantas realocam nutrientes das folhas para outras estruturas, como raízes, brotos ou frutos. “As folhas começam a amarelar, secam e caem, dando lugar à florada que marca o paisagismo de Brasília nesta época do ano”, detalha a Novacap.
Patrimônio
O ipê é nativo do Cerrado, mas está presente em todas as regiões do país. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as árvores podem chegar a 25 metros de altura e viver mais de 50 anos. “São majestosas, com casca rugosa, folhas compostas e comportamento caducifólio, ou seja, perdem as folhas em determinada época do ano, o que antecede a floração”, explica Fernando Souza Rocha, pesquisador da Embrapa Cerrados. No Distrito Federal, são nove espécies conhecidas como ipês, incluindo cinco tipos de ipê-amarelo, além das versões rosa, roxa, branca e verde.
Todas as espécies são nativas do Brasil, embora apenas seis ocorram na vegetação natural do DF. “Vale lembrar que o ipê-amarelo é a flor símbolo do Brasil desde 1961 e que duas espécies (Tabebuia e Handroanthus) foram tombadas como Patrimônio Ecológico-Urbanístico do Distrito Federal”, completa Rocha.
Plantio
Entre 2016 e 2023, a Novacap plantou mais de 93 mil mudas de ipês de diferentes espécies no Distrito Federal. Segundo a companhia, não é possível contabilizar a quantidade por cor, pois muitas delas são plantadas diretamente pela população, fora dos registros oficiais.
A quantidade anual de mudas depende da produção nos viveiros da empresa, que determina o volume disponível para o programa de arborização urbana.
O plantio costuma ocorrer no período chuvoso, entre outubro e março, para facilitar o crescimento das raízes e prepará-las para a estiagem. Os cuidados incluem roçagem da área de cultivo e manejo de pragas, permitindo o crescimento saudável das plantas.
Floração
Varia conforme a espécie: o roxo é o primeiro a aparecer, entre maio e agosto; os amarelos florescem de julho a novembro, com auge em agosto e setembro; o rosa vai de junho a setembro; o branco surge entre agosto e setembro; e o ipê-verde, diferentemente dos demais, floresce entre dezembro e março.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press