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Cristovam vê risco no futuro do Cidadania

Para Cristovam Buarque, o Cidadania passa por uma crise de identidade, dividido entre...

Para Cristovam Buarque, o Cidadania passa por uma crise de identidade, dividido entre as origens esquerdistas e uma aproximação circunstancial com a direita. Vice-presidente da legenda, o ex-governador do Distrito Federal analisou o atual momento do partido e a conjuntura política no Podcast do Correio. Em conversa com os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Samanta Sallum, Cristovam explicou que a divisão interna no Cidadania reflete uma disputa ideológica que se arrasta há anos dentro da legenda.

Segundo Cristovam, a legenda, que tem origem no antigo Partido Comunista Brasileiro, passou por transformações após o fim da União Soviética, mas manteve, por longo período, vínculos com o campo progressista. Esse cenário começou a se alterar, de acordo com ele, há cerca de cinco anos, quando ocorreu um processo de alinhamento com a direita. “O Cidadania é um partido que vem da família da esquerda. A partir de um certo momento, começou uma mudança em direção a uma direitização do partido. O Roberto Freire levou o partido para a direita”, afirmou.

A divergência teria sido resolvida há dois anos, quando o diretório nacional substituiu Roberto Freire pelo ex-deputado Comte Bittencourt. Essa decisão, segundo Cristovam, reposicionou o partido no campo da centro-esquerda. “Essa disputa ideológica teve uma solução, quando a maioria expressiva do diretório substituiu Roberto Freire pelo Comte Bittencourt, que conseguiu trazer o partido para uma posição progressista”, disse.

O cenário mudou novamente em novembro deste ano. Uma decisão judicial invalidou a ata da eleição interna convocada a partir de um pedido de licença por tempo indeterminado apresentado por Roberto Freire. Com isso, Freire reassumiu a presidência do partido.

Para Cristovam, trata-se de uma mudança que ignora a decisão política do diretório. “Substituiu-se burocraticamente, cartorialmente, um presidente eleito pelo diretório por um que representava o passado do partido”, afirmou.

Lado bolsonarista

Atualmente, Roberto Freire ocupa a presidência do Cidadania por força dessa decisão, que ainda pode ser revertida. O caso está sob análise do Supremo Tribunal Federal, com relatoria do ministro Gilmar Mendes. Cristovam avalia que o retorno de Freire inviabiliza alianças estratégicas e altera o rumo político da legenda. “Eles ganharam para levar o partido para o lado bolsonarista, com toda certeza”, declarou o vice-presidente do Cidadania, ao comentar as articulações com setores ligados ao Republicanos e ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Segundo Cristovam, o impasse jurídico bloqueia a construção de uma frente mais ampla no campo progressista. “O fato é que hoje está barrada a nossa marcha em direção a uma grande composição de centro-esquerda e esquerda, apoiando o Lula para presidente”, afirmou.

O ex-ministro da Educação também relatou que, com a nova direção, houve isolamento de dirigentes e paralisação de atividades internas. “Eu, por exemplo, sou um vice-presidente nacional e não tenho nenhum contato com nada. Cortaram todas as verbas da fundação; os servidores não recebem nem salário”, denunciou.

Diante do cenário, Cristovam condicionou sua eventual candidatura para deputado federal em 2026 à definição do comando partidário. Ele afirmou que não disputará mandato caso Roberto Freire permaneça à frente do Cidadania. “Eu me dispus a ser candidato a deputado federal, que é o que interessa ao partido. Agora, se de fato vem o Roberto Freire com a cobertura da Justiça, eu não tenho o menor interesse em ser candidato. Não serei candidato, até porque o partido vai estar na família da direita e não é a minha família”, afirmou.

Projeto nacional

Ao analisar a conjuntura política, Cristovam avaliou que o Brasil enfrenta uma crise mais profunda, marcada pela ausência de um projeto nacional de longo prazo. Para ele, apesar de indicadores econômicos e sociais estarem sob controle, falta uma visão de futuro. “O país está realmente em crise. A descrença é uma crise nacional. O Brasil hoje não tem o rumo para onde vai. O presidente Lula é um governo do presente, administrando a própria crise e sem esperança para o futuro”, avaliou.

O ex-petista também criticou a dificuldade da esquerda em atualizar o discurso e dialogar com temas contemporâneos. Para ele, conceitos políticos foram reduzidos a rótulos associados ao petismo e ao bolsonarismo. “Progressista e conservador virou petista e bolsonarista. Nós, da esquerda, fracassamos em um discurso que satisfaça o eleitor”, admitiu.

Em relação às eleições do próximo ano, o ex-senador acredita que a direita pode voltar ao poder caso apresente um candidato desvinculado do bolsonarismo. Também afirmou que a vitória de Lula em 2022 esteve ligada à ampliação de alianças, como a do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Cristovam disse, por fim, esperar que o Cidadania retome um projeto político alinhado ao campo progressista e capaz de contribuir para um debate nacional mais amplo. Segundo ele, sem uma definição clara de rumos, tanto o partido quanto o país permanecem presos a disputas imediatistas, sem horizonte de longo prazo. 

Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Pedro Mesquita/CB/D.A Press

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