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PF mira controladora de emendas

Operação da Polícia Federal (PF) para investigar suspeitas de desvios de recursos por...

Operação da Polícia Federal (PF) para investigar suspeitas de desvios de recursos por meio de emendas parlamentares, deflagrada ontem, chegou à advogada gaúcha Mariângela Fialek, ex-assessora do deputado federal e ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Conhecida como “Tuca”, ela é suspeita de ser a principal responsável por executar e exercer o controle de indicações das emendas que ficaram conhecidas como “orçamento secreto”.

A Operação Transparência cumpriu dois mandados de busca e apreensão em Brasília, expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino — relator na Corte das ações que envolvem as emendas na Corte. A investigação apurou os crimes de peculato, falsidade ideológica, uso de documento falso e corrupção.

A decisão que autorizou a operação indica que Mariângela “desponta exercer o controle de indicações desviadas de emendas decorrentes do orçamento secreto em benefício de uma provável organização criminosa voltada à prática de desvios funcionais e crimes contra a administração pública e o sistema financeiro nacional” — conforme define trecho da Procuradoria-Geral da República dando aval à operação. Dino também salienta que os depoimentos colhidos de parlamentares apontam que ela atuava “diretamente na operacionalização do encaminhamento de emendas” e que efetuava as indicações em nome de Lira.

O ministro destacou na decisão o “incomum desapego à formalidade na formulação orçamentária”. Dino cita que anotações feitas à mão, realizadas de maneira “rudimentar”, foram responsáveis pela realocação de recursos de um município para outro.

“Lamentavelmente, não há como não comparar a maneira de controlar e organizar o orçamento secreto coordenado por ‘Tuca’ a uma ‘conta de padaria’. A anotação transparece que milhões em recursos públicos eram direcionados a partir de comandos verbais, sem qualquer preocupação com projetos ou interesses republicanos de fato”, frisa o ministro.

A investigação se baseou nos depoimentos de seis parlamentares, incluindo os deputados Glauber Braga (PSol-RJ) — desafeto público de Lira — e José Rocha (União-BA), além do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e de uma servidora da Câmara. Embora o ex-presidente da Casa não seja alvo da operação, ele é citado 24 vezes na decisão de Dino. A maioria dessas menções ocorreu nos depoimentos de Glauber e Rocha.

A assessoria de Lira afirmou que Mariângela não é assessora do parlamentar e que ele não teria nada a comentar, pois não é investigado. A liderança do PP na Câmara informou que está “averiguando todo ocorrido” — até o fechamento desta edição não fez nenhuma manifestação pública.

Mariângela atualmente está lotada na liderança do PP, partido de Lira. Ela ocupa cargo de natureza especial e tem, segundo o Portal da Transpárência da Casa, remuneração bruta de R$ 23,7 mil. É responsável pelo setor que organiza a indicação de emendas parlamentares.

As buscas realizadas pela PF foram cumpridas na casa de Mariângela e nas salas que ela ocupa no Congresso — uma delas, segundo os registros, é destinada à Presidência da Casa; a assessora começou a usá-la em 2022, na gestão de Lira, e era onde despachava sobre emendas. Um celular e outros pertences foram apreendidos.

Além de função que ocupa no Parlamento, Mariângela também foi conselheira fiscal da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) até 2023, estatal que recebeui recursos destinados por emendas do “orçamento secreto”.

Segundo a defesa de Mariângela, “sua atuação era estritamente técnica, apartidária e impessoal”. Os advogados da servidora salientam que “todo material de trabalho de Mariangela é público, e que todas as informações dali constantes, sobre indicações de emendas, são encaminhadas à Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República”. E frisam que “não se imputa a Mariangela a prática de nenhuma irregularidade funcional ou criminal”.

Clima ruim

Parlamentares manifestaram preocupação com a operação da PF. Alguns deputados relatam o clima ruim no Congresso. “Deve ter muita gente preocupada com essa operação”, alfinetou Aluísio Mendes (Republicanos-MA). “Clima de guerra”, disse Luísa Canziani (PSD-PR), referindo-se a mais uma confronto entre Judiciário e Legislativo

Parlamentares do Centrão elogiaram Mariângela. Disseram que ela é “querida” e intermediária dos pedidos de Motta e de Lira. Acrescentaram que na era Motta ela ainda faz esse trabalho. Um deles explicou o processo: o parlamentar despacha com Motta ou com Lira, que encaminham o pedido a ela e, depois, o deputado a cobra. A advogada também faria, segundo relatos, o acompanhamento das emendas com os ministérios. (Com Agência Estado)

Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara

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