Com a anulação das condenações de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2021, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Lava-Jato, o então presidente Jair Bolsonaro deu início, gradativamente, ao ataque ao sistema eleitoral brasileiro. No inquérito da trama golpista, que o condenou em setembro passado, é ressaltado que procurou “estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações’ e replicar essa narrativa ‘novamente e constantemente’, a fim de deslegitimar possível resultado eleitoral que lhe fosse desfavorável e propiciar condições indutoras da deposição do governo eleito”. Por essa e outras acusações, o ex-presidente foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. Segundo a decisão da Primeira Turma do STF, ele chefiava uma organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado. Relembre as principais datas dessa trajetória, que culminou com a prisão preventiva, ontem, pela tentativa de violar a tornozeleira eletrônica que vinha sendo obrigado a utilizar desde agosto.
2021
7 de setembro — As críticas às urnas eletrônicas escalaram em intensidade e agressividade. Bolsonaro aproveitou diversas ocasiões para deslegitimar o processo eleitoral. No Dia da Indendência, afirmou em comício na Avenida Paulistra que não mais se submeteria às deliberações do STF. “Aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá. E aqueles que pensam que, com uma caneta, podem me tirar da Presidência, digo uma coisa, para todos nós. Temos três alternativas, em especial para mim: preso, morto ou com vitória. Aos canalhas: eu nunca serei preso”. No mesmo evento, atacou o ministro Alexandre de Moraes — “deixe de ser canalha”, disse, ao microfone. À época foi preciso uma articulação, costurada pelo ex-presidente Michel Temer, para apizaguar os ânimos junto ao STF, então presidido por Luiz Fux. Foi quando, em 9 de setembro, foi divulgada uma “Carta à Nação”, na qual o ex-presidente recuava e negava a intenção de agredir os Poderes.
2022
5 de julho — Com as pesquisas de opinião junto ao eleitorado indicando que Lula poderia voltar à Presidência, Bolsonaro deu início a movimentos ostensivos considerados preparatórios para o golpe. Nesta data, o então presidente comandou uma reunião ministerial na qual discutiu-se estratégias para reagir a uma eventual derrota. Foi eles mesmo que advertiu que, se não reagissem antes, haveria “caos”. O então ministro do Gabinte de Segurança Institucional (GSI), general da reserva do Exército Augusto Heleno chegou a propor uma “virada de mesa” antes que não houvesse mais tempo para tal.
18 de julho — Bolsonaro reúne-se com embaixadores, no Palácio da Alvorada, acusando — sem provas — que haveria fraude no sistema eleitoral. Ele fez acusações e levantou “dúvidas” sobre a lisura das urnas eletrônicas com o objetivo, segundo a acusação da PGR que levou à condenação do ex-presidente, de minar a credibilidade do processo perante a comunidade internacional. Nesse momento, uma intensa movimentação de bastidores levou militares bolsonaristas e seus assessores a pressionaram comandantes militares para aderirem ou apoiarem ações de ruptura institucional após a eventual derrota eleitoral.
30 de outubro — No dia do segundo turno da eleição presidencial, policiais rodoviários federais fizeram blitze em várias estradas do Nordeste, onde estava a principal base eleitoral de Lula. O então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, foi convocado pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, a explicar as intervenções e foi avisado de que seria preso se os bloqueiros não fossem levantados para restabelecer a livre circulação de eleitores.
31 de outubro — Confirmado que Lula fora confirmado, horas antes, vencedor da corrida presidencial, explodiram bloqueios de estradas por todo o país, supostamente em protesto contra uma vitória fraudada do então candidato do PT. Quase simultaneamente, bolsonaristas se concentraram em frente aos quarteis do Exército, em vários estados e no Distrito Federal, exortando um golpe militar “com Bolsonaro no poder”. Os bloqueios das estradas começaram a cair somente em dezembro, mas os acampamentos golpistas prosseguiram pelos primeiros dias de 2023.
Entre 1º e 14 de novembro — Com Bolsonaro encastelado no Alvorada, sem reconhecer a vitória de Lula, ocorreram uma série de reuniões nas quais avaliava-se “meios constitucionais” para não confirmar a volta do candidato do PT à Presidência. Numa delas, foi apresentada a chamada “minuta do golpe”, levada por Felipe Martins, então assessor para Assuntos Internacionais do ex-presidente. A versão que prevalece é que somente o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, aderiu à proposta de uma quartelada. O general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, e tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, teria dito “não” ao plano. Gomes, inclusive, teria avisado a Bolsonaro que lhe daria voz de prisão caso insistisse no projeto.
12 de dezembro — Horas depois da diplomação de Lula e do vice Geraldo Alckmin pelo TSE, os bolsonaristas promoveram um grande quebra-quebra no centro de Brasília. O pretexto foi a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, apoiador do ex-presidente. Os vândalos tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF), na Asa Norte; queimaram vários carros; e tentaram jogar um ônibus incendiado de um viaduto. Ninguém foi preso.
24 de dezembro — Bolsonaristas colocaram uma bomba em um caminhão-tanque estacionado próximo ao Aeroporto Juscelino Kubitschek. O artefato, que não explodiu por algum defeitona montagem, foi descoberto e desarmado.
30 de dezembro — Bolsonaro viaja para os Estados Unidos para não passar a faixa presidencial a Lula. Retorna ao Basil em 30 de março do ano seguinte.
2023
8 de janeiro — Intensificam-se os atos golpistas na frente dos quarteis para impedir que o governo Lula começasse. Num domingo, organizadamente, bolsonaristas que vieram de vários pontos do país se uniram àqueles que estavam acampados em frente do Quartel-General do Exército e desceram para, supostamente, um protesto na Esplanada. Mas rompreram as barreiras de isolamento e envadiram as sedes dos Três Poderes, depredando-as. Centenas de pessoas foram presas logo depois e nas horas que se seguiram ao vandalismo.
30 de junho — Bolsonaro foi declarado inelegível pelo TSE, por 5 x 2, por abuso de poder econômico nas eleições e utilização indevida dos meios de comunicação. Isso porque a reunião com os embaixadores, em 18 de julho, foi transmida pela TV Brasil, veículo de comuniação oficial da União. Ele não pode disputar eleições até 2030.
2025
18 de julho — Ex-presidente passou a usar tornozeleira eletrônica por determinação de Alexandre de Moraes, no âmbito da ação da trama golpista. Também estava obrigado ao recolhimento domiciliar noturno, à proibição de se comunicar com outros investigados ou acessar redes sociais.
4 de agosto — Moraes determina a prisão domiciiar de Bolsonaro por descumprimento reiterado de medidas cautelares — como proibição de uso de redes sociais.
11 de setembro — STF forma maioria para condenar o ex-presidente. A pena de 27 anos e três meses de prisão é porque foi considerado chefe da organização criminosa que se formou para dar um golpe de Estado depois das eleições de 2022.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Reprodução de vídeo







