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Trump abre canal de negociação com Brasil e elogia Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos,...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retomaram, nesta segunda-feira oficialmente, o diálogo direto entre Brasília e Washington. Em um telefonema de 30 minutos, descrito por ambos como “cordial e produtivo”, os líderes discutiram temas comerciais e diplomáticos, abrindo caminho para um reencontro presencial “em breve”.

Segundo nota do Palácio do Planalto, Lula afirmou que o contato representa “uma oportunidade de restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. O gesto é visto como o início de uma nova fase diplomática entre os dois países, após tensões políticas e comerciais.

Durante a conversa, Lula destacou que o Brasil é um dos três países do G20 com os quais os Estados Unidos mantêm superavit comercial e pediu a retirada da sobretaxa de 40% aplicada a produtos brasileiros, além da revisão de medidas restritivas a autoridades nacionais. O presidente aproveitou para reiterar o convite a Trump para participar da COP30, que será realizada em Belém (PA) no próximo mês.

Trump reagiu positivamente e afirmou, em publicação na rede Truth Social, que teve uma “ótima ligação” com o presidente brasileiro. “Discutimos muitas coisas, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países. Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei muito da conversa — nossos países farão grandes coisas juntos”, escreveu o republicano.

O chefe de Estado norte-americano designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Do lado brasileiro, participaram da ligação desta segunda-feira Alckmin, Vieira, Haddad, o ministro da Secom, Sidônio Palmeira, e o assessor especial Celso Amorim.

Lula sugeriu que o primeiro encontro presencial ocorra à margem da Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), no fim deste mês, em Kuala Lumpur, na Malásia; durante a COP30; ou em uma visita oficial a Washington. Segundo o Planalto, os dois presidentes também trocaram contatos telefônicos para manter uma linha direta de comunicação.

Horas depois, em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump disse que pretende “começar a fazer negócios com o Brasil”. Ele chamou de “uma ótima conversa” o contato que teve por telefone com Lula. O republicano ressaltou que os dois países vão estreitar laços econômicos e comerciais.

Trump elogiou Lula, a quem chamou de “uma ótima pessoa”, e recordou o primeiro encontro entre ambos. “Eu o conheci nas Nações Unidas, no dia em que o teleprompter falhou… foi um momento interessante”, afirmou, em tom descontraído.

O presidente norte-americano também confirmou que há planos de encontros presenciais entre os dois líderes. “Em algum momento, Lula virá para os Estados Unidos, e eu irei ao Brasil”, repetiu.

“Desdobramentos”

O vice-presidente Geraldo Alckmin classificou o telefonema como “melhor até do que nós esperávamos”. De acordo com ele, a conversa “foi muito positiva, como o presidente Trump reiterou”. “Boa química, conversa proveitosa, e é claro que agora teremos os seus desdobramentos, com conversas entre o próprio presidente Lula e o presidente Trump, que, aliás, até trocaram seus telefones pessoais”, disse.

Ele reiterou que, entre os países do G20, só três — Reino Unido, Austrália e Brasil — têm superavit com os EUA. “Então, não há nenhuma razão para ter uma tarifa extra de mais 40%”, afirmou. E reforçou o tom otimista: “Acho que foi uma reunião extremamente positiva e que vai ter próximos passos importantes. Vamos aguardar”, completou.

Segundo Alckmin, Lula também expressou desconforto com as sanções e restrições de vistos aplicadas a autoridades brasileiras, mas avaliou que o diálogo foi “bom, descontraído, proveitoso, longo — foram 30 minutos”. “Nós somos muito otimistas de que vamos avançar para o ganha-ganha, com investimentos recíprocos e equacionamento na questão tarifária”, enfatizou.

Mercado

O reflexo da reaproximação foi sentido rapidamente. O dólar fechou em queda de 0,49%, cotado a R$ 5,3107. Para o economista André Perfeito, a alta do real tem relação direta com o telefonema entre Lula e Trump.

“Na ausência de outra notícia que justifique a valorização do real, acredito que a nota da Secom sobre a conversa entre Lula e Trump pode ter influenciado o movimento”, avaliou. “Isso sugere uma volta gradual à normalidade diplomática e retira parte das pressões entre os dois países.”

Apesar do otimismo, analistas mantêm cautela. “A valorização do real hoje parece mais um movimento pontual, guiado por uma notícia política, do que uma mudança estrutural de tendência”, ponderou Perfeito. “Mas o fato é que qualquer gesto de normalização nas relações com os Estados Unidos tende a ser bem recebido pelo mercado.”

Para o cientista político Márcio Coimbra, o movimento representa um degelo tático, ainda que instável. “Vejo que emerge um padrão de pragmatismo diplomático em meio a tensões comerciais e políticas, com Lula solicitando a revogação de tarifas americanas de até 50% sobre exportações brasileiras como café e carne – impostas como retaliação ao julgamento de Jair Bolsonaro -, enquanto Trump enfatiza o foco econômico, trocando contatos pessoais e especulando encontros na Asean ou nos EUA, sem mencionar explicitamente o caso Bolsonaro, para evitar escalada.”

O analista também observou que, embora ministros como Haddad e Alckmin projetem uma relação “ganha-ganha”, o cenário permanece incerto. “A ausência de concessões concretas e as agendas ideológicas divergentes — Lula convidando para a COP30 sem resposta firme — sugerem que o diálogo representa um degelo tático, mas instável, com riscos de recaída, se o pano de fundo político não for resolvido, destacando a volatilidade das relações bilaterais em um contexto global de protecionismo e nacionalismo.” (Com Agência Estado)

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Platobr Politica

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