Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva conversaram pela primeira vez, nesta segunda-feira (6/10), desde que os Estados Unidos anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, Donald Trump.
Em uma videoconferência de cerca de 30 minutos de duração, os presidentes tiveram “uma ótima conversa”, segundo Trump publicou em sua rede social, “em tom amistoso”, de acordo com nota enviada posteriormente pelo Planalto.
No entanto, um assunto se tornou o ponto nevrálgico dessa aproximação entre os dois presidentes: Marco Rubio, o secretário de Estado americano.
Ele foi designado por Trump dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Segundo uma fonte que conhece a negociação, o governo brasileiro preferia que o interlocutor do lado americano não fosse ele.
Outra fonte do governo brasileiro próxima ao presidente Lula diz que o impacto da designação de Marco Rubio como principal negociador do tarifaço ainda está sendo analisado pela equipe liderada por Alckmin.
Ela disse que o governo brasileiro não ignora o fato de Rubio ser apontado como um integrante da chamada ala “ideológica” do governo Trump.
Por outro lado, a fonte diz que, para o governo brasileiro, é melhor ter um negociador diretamente ligado ao presidente e com o seu aval a ter que negociar com alguém sem interlocução direta com o Trump.
‘Rubio é caminho mais difícil para o Brasil’
A indicação de Marco Rubio como possível líder das negociações com o Brasil é vista como delicada por analistas e celebrada por aliados de Bolsonaro, que buscar minimizar a nova aproximação.
“Nomear Marco Rubio como o homem de ponta de Trump é o caminho mais difícil para o Brasil — ele é um cético de longa data em relação a Lula e pode insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”, escreveu o brasilianista Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, na rede social X.
O empresário Paulo Figueiredo, aliado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, foi às redes sociais dizer que colocar Marco Rubio para negociar significa “zero de avanço”.
Figueiredo e Eduardo foram denunciados, no último dia 22, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por coação no curso de processo, por ter articulado sanções contra o país e autoridades brasileiras, numa tentativa de influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado.
Da mesma forma, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) escreveu que “Rubio seguirá a carta do Trump: normalidade democrática, acabar com censura e perseguição política, eleições livre e deixem Bolsonaro em paz”.
“A química azedou”, escreveu ele, em alusão ao que Trump havia dito na Assembleia Geral da ONU, há duas semanas, quando encontrou Lula presencialmente pela primeira vez e disse que eles tiveram “química excelente”.
Assim como Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de pena pelo Supremo Tribunal Federal por golpe de Estado, Ramagem recebeu uma pena de 16 anos e 1 mês.
Segundo analistas como Dawisson Belém Lopes, professor de Política Internacional e Comparada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o aceno de Trump a Lula ainda na ONU obrigou os bolsonaristas a se reposicionarem porque desfez o mito sobre a direita ter monopólio de acesso ao governo Trump.
Quem é Marco Rubio
Marco Rubio tem sido um dos principais porta-vozes das sanções contra o Brasil. Além do tarifaço, também liderou ação de revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália ao Programa Mais Médicos, que teve massiva participação de médicos cubanos durante o governo Dilma Rousseff.
Rubio nasceu em Miami em 1971, filho de pais cubanos que imigraram para os EUA sem dinheiro e sem falar uma palavra em inglês.
Ao ser nomeado por Trump, em novembro do ano passado, para ocupar o cargo de Secretário de Estado, Rubio tornou-se a pessoa de origem latino-americana com o cargo mais importante no governo dos Estados Unidos da história.
“Promoveremos a paz através da força”, disse Rubio na rede social X ao aceitar a nomeação de Trump para liderar a política externa do país.
Senador republicano, Rubio é conhecido por sua posição linha-dura a favor de Israel e contra Cuba, mas também contra China, Irã, Venezuela e a Nicarágua.
“Ele será um grande defensor do nosso país, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro feroz que não recuará diante dos nossos adversários”, disse Trump ao fazer o anúncio sobre Rubio em 2024.
Quando Bolsonaro foi condenado pelo Supremo, no mês passado, Rubio prometeu uma “resposta à altura”.
Em postagem no X, Rubio repetiu o presidente americano, Donald Trump, classificando o processo contra Bolsonaro de “caça às bruxas”.
“As perseguições políticas pelo violador de direitos humanos e alvo de sanções Alexandre de Moraes continuam, enquanto ele e outros no Supremo Tribunal do Brasil decidiram injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos darão resposta à altura a essa caça às bruxas”, afirmou Rubio.
Na época, o Itamaraty respondeu à publicação de Rubio dizendo que ameaças “não intimidarão” a democracia brasileira.
Dias depois, Rubio ameaçou novamente o Brasil, dizendo que seu país poderia adotar novas medidas em breve.
“Bem, a resposta é que o Estado de Direito está se rompendo. Você tem esses juízes ativistas, um em particular, que não apenas foi atrás de Bolsonaro, como tentou exercer reivindicações extraterritoriais até mesmo contra cidadãos americanos ou contra alguém que posta online a partir dos Estados Unidos, e, na verdade, ameaçou ir ainda mais longe nesse aspecto”, afirmou Rubio, sem mencionar nomes.
“Haverá uma resposta dos EUA a isso [à condenação], e é sobre isso que teremos alguns anúncios na próxima semana ou mais sobre quais passos adicionais pretendemos tomar.”
Por fim, Rubio afirmou que a condenação de Bolsonaro “é apenas mais um capítulo de uma crescente campanha de opressão judicial que tentou atingir empresas americanas e até pessoas que operam a partir dos Estados Unidos.”
Uma semana depois das declarações de Rubio, a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, foi incluída na Lei Magnitsky.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Mike Segar/Reuters