Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump vão conversar em uma semana. O norte-americano pronunciou nas Nações Unidas um discurso sereno, mesmo depois da fala provocativa de Lula na tribuna. Encontraram-se brevemente. “Ele parece uma cara legal. Gosta de mim, e eu gostei dele”, comentou, depois, o republicano.
Não é a primeira vez que um presidente republicano gosta da aproximação com Lula. Quando o brasileiro foi à Casa Branca antes de tomar posse em seu primeiro mandato, George W. Bush confiou-lhe uma missão: que cuidasse da Venezuela, mas não se intrometesse na derrubada de Saddam Hussein. Lula deve ter-se surpreendido com a abordagem de Trump, ontem, e agora terá uns dias para acertar com Celso Amorim o tom da conversa. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não foi mencionado.
A holding familiar de Moraes recebeu também a sanção da Lei Magnitsky — o instituto chamado de Lex. Trocadilho com lei em latim e com o diminutivo de Alexandre. E Lex faz lembrar o Lex Luthor — ou Alexander Luthor —, o vilão de uma série do Super-homem, fisionomicamente semelhante a Moraes.
Na ampliação recente da Magnistsky, teria a família de Moraes que ser punida por causa do chefe, como a família de blogueiro Oswaldo Eustáquio foi? A letra fria da lei diz que são atingidos todos os que se relacionam com o sancionado, pois poderiam ser usados como alternativa financeira. O secretário do Tesouro Scotte Bessent, que aplica a lei, ao ser perguntado pela Reuters por que sancionar a advogada Viviane, que toca o escritório do casal, respondeu que onde há um Clyde há uma Bonnie. Referia-se à dupla de assaltantes de bancos dos anos 1930 Bonnie e Clyde, que foram retratados num filme com Warren Beatty e Faye Dunaway.
No mesmo dia, mais autorizações para entrar nos Estados Unidos foram canceladas. Do advogado-geral da União, Jorge Messias — que ficou conhecido como “Bessias” — e do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Benedito Gonçalves, que ficou conhecido pelo cochicho no ouvido de Moraes — “missão dada, missão cumprida” —, do tempo em que também era ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O desembargador Airton Vieira, que ficou famoso por exigir criatividade de Eduardo Tagliaferro para sancionar a revista Oeste, também perdeu o visto americano, entre outros. Tudo isso na véspera do discurso de Lula, como manda a rotina anual da abertura da Assembleia da ONU.
Lula já estava nos Estados Unidos quando a ampliação das sanções foi anunciada. Recusava-se a falar com Trump, mas agora conversa ou deixa clara sua posição. Vai falar sobre as condições da retirada das tarifas de importação de produtos brasileiros? Do distanciamento do Ocidente? Descondenado pelo STF, não ousa defender a Constituição, como jurou. Vai defender Moraes perante Trump?
Enquanto isso, na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) diz que é preciso tirar as “pautas tóxicas” — seriam as grandes questões que mobilizam o país, como anistia e militância do Supremo, assim como a timidez do Poder mais poderoso, o Legislativo. Motta empurra o que está em ebulição para debaixo do tapete. Sem a válvula do debate, a pressão aumentará e pode explodir a panela de pressão. É o risco de um 8 de Janeiro turbinado.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ricardo Stuckert / PR