A visita da delegação da União Europeia (UE) ao Brasil na semana passada, com encontros no Ministério das Relações Exteriores e reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada, reforçou as expectativas de que o acordo entre Mercosul e União Europeia seja concluído até dezembro deste ano. A previsão foi confirmada pelo Itamaraty, que vê a presidência temporária brasileira no Mercosul como janela de oportunidade para finalizar as negociações até o final do ano.
Para o internacionalista Alexandre Andreatta, do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), a visita marcou um momento estratégico, destacando-se pelo timing favorável das negociações, em que Brasil e Europa buscam alternativas ao protecionismo dos Estados Unidos. “O Brasil sofreu as tarifas dos Estados Unidos, assim como a Europa também sofreu. O Brasil está buscando compensações e outros parceiros comerciais, e a União Europeia vê isso como uma grande oportunidade”, avaliou.
Durante os encontros, o presidente Lula e o chanceler Mauro Vieira e a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, discutiram pautas como a defesa do multilateralismo. O tratado de livre-comércio entre os blocos prevê a redução mútua de tarifas de importação para produtos alimentícios, farmacêuticos e produtos industriais.
EFTA
O avanço nas negociações com a União Europeia ocorre pouco depois da assinatura, na semana passada no Palácio do Itamaraty, do tratado de livre-comércio entre Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). O acordo, negociado desde 2017, elimina 100% das tarifas de importação dos setores industrial e pesqueiro, beneficiando quase 99% do valor das exportações brasileiras ao bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.
As expectativas para que haja a assinatura do tratado entre Mercosul e União Europeia também foram repercutidas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin. “Estamos muito otimistas. Esse será um acordo ganha-ganha, importante para a União Europeia, Mercosul e para o Brasil. Ele trará um impulso estratégico para o multilateralismo e para a inserção competitiva do Brasil no mercado global”, declarou.
Estudos apresentados pelo ministério indicam que as exportações brasileiras para a União Europeia poderiam crescer 6,7% na agricultura, 14,8% nos serviços e 26,6% na indústria de transformação.
Multilateralismo
A movimentação reflete uma busca mundial por acordos comerciais formais, contrastando com o protecionismo americano. Vito Villar, coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores, observa que não se trata de um movimento isolado do Mercosul. “A sinalização mais importante é essa busca do Mercosul e de outros países por acordos multilaterais de livre comércio bem estruturados, depositados na OMC, diferentemente dos acordos executivos que os Estados Unidos vêm tratando, pouco formalizados”.
Para Villar, essa tendência “sinaliza um grande ímpeto internacional na busca pela formalidade, por acordos concretos que abram de fato o mercado, na contramão do protecionismo americano atual. É uma sinalização do comércio internacional em busca de abertura de mercados”.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ricardo Stuckert / PR