O brasiliense Caio Bonfim voltou a escrever o nome na história do atletismo internacional. Na noite desta sexta-feira, (manhã deste sábado no Japão), o marchador conquistou a medalha de prata na prova dos 35km do Campeonato Mundial de Atletismo de Tóquio. O resultado, inédito na carreira nessa distância, reforça a condição de protagonismo de um dos maiores atletas da modalidade no país e confirma duas “projeções”: uma feita pelo pai, João Sena, ao Correio, com a disputa em andamento, e a outra em um sonho do irmão Evam.
Caio Bonfim transbordou emoção ao conquistar a medalha de prata. Antes de comentar pela primeira vez sobre a prova, precisou ser carregado. Era um mix de desgaste de quem levou o corpo ao extremo em uma prova de quase 2h30 de duração. “Desculpa, é cansaço. A minha esposa mandava mensagem todos os dias: ‘luta por nós, vença por nós’. Foi isso que fiz. Lutei muito. Sabemos o quão difícil é chegar entre os melhores do mundo e se manter. Depois da prata em Paris, como se manter entre os melhores do mundo? É uma prova inédita, na qual sofri muito. Eu sabia que poderia chegar longe”, discursou ao SporTV.
Na conversa, o brasiliense revelou uma previsão familiar. “É um sonho. Meu irmão mandou uma mensagem falando que sonhou comigo chegando, ganhando medalha, ouro, algo assim. Ele falou: ‘meus sonhos não costumam ser realizados, mas vamos sonhar’. Mano, obrigado, sei que você está assistindo”, dedicou, a Evam. Caio subirá ao pódio na tarde de hoje, às 17h30. para receber a medalha de prata em Tóquio. Ontem, ele surgiu com uma “fake” entregue pela organização. “A original vai ter meu nome gravado”, explicou.
A estratégia de prova foi determinante para o atleta de Sobradinho subir ao pódio na capital japonesa. Caio Bonfim começou a corrida dosando o ritmo, mantendo-se no pelotão intermediário e manteve a tática ativa até a competição ultrapassar os 30km. Nos últimos cinco quilômetros, ainda na sexta colocação e com um semblante de desgaste, iniciou uma reação impressionante: ganhou posições com ultrapassagens seguras e firmes, embalado pela energia da reta final.
A disputa pelo ouro trouxe ainda mais emoção na chegada da prova. O líder canadense Evan Dunfee sofreu com cãibras nos quilômetros finais e passou a marchar no sacrifício, aumentando a tensão sobre o desfecho da disputa em terras japonesas. Mesmo assim, o brasiliense não conseguiu tirar a diferença, mas cruzou a linha de chegada em segundo lugar, celebrando um resultado histórico e importante para a sequência da carreira com um sorriso no rosto.
O feito tem ainda mais peso porque os 35km não são a especialidade de Caio Bonfim. O brasiliense, normalmente, compete nos 20km — distância adotada nas provas de Jogos Olímpicos, por exemplo. A marca de 2h28m55s foi suficiente para colocá-lo no pódio e escrever mais um capítulo vitorioso da história do marchador da capital federal. Dunfee ganhou o ouro, com 2h28m22s. O japonês Hayato Katsuki fechou o pódio, com a marca 2h29m16s.
Ao longo da carreira, Caio Bonfim coleciona conquistas de peso no cenário internacional. Nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, foi medalhista de prata nos 20km e virou o primeiro brasileiro a subir ao pódio na modalidade. Em Mundiais, soma dois bronzes — em Budapeste-2023 e Londres-2017 —, em provas da mesma distância. Nos Jogos Pan-Americanos, subiu ao pódio em quatro oportunidades: prata em Santiago-2023 e Lima-2019 nos 20km, além de bronze no revezamento de marcha em Santiago-2023 e nos 20km em Toronto-2015.
Projeção paterna
Enquanto Caio Bonfim competia no Japão, a reportagem do Correio entrou em contato com o pai do atleta, João Sena, para avaliar o desempenho do brasiliense. Assistindo pela televisão em Sobradinho — apenas a mãe Gianetti Bonfim o acompanhou na disputa em Tóquio —, o treinador projetou a evolução do filho nos quilômetros finais da competição internacional. “O Caio vai lutar até o fim”, garantiu. E o brasiliense, de fato, batalhou até os últimos metros para adicionar a medalha inédita na distância de 35km em âmbito de Mundiais no currículo.
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Yuichi Yamazaki/AFP