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Bebês, idosos e mulheres são grupos mais atingidos pela dengue no DF

No Distrito Federal, as vítimas mais recorrentes da dengue são os bebês menores...

No Distrito Federal, as vítimas mais recorrentes da dengue são os bebês menores de 1 ano, os idosos acima de 80 anos e as mulheres. É o que mostra o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES-DF), com dados de 29 de dezembro de 2024 a 6 de setembro deste ano. No período analisado, 4.977 mulheres pegaram a infecção transmitida pelo mosquisto Aedes aegypti. Isso representa 299,3 casos para cada grupo de 100 mil habitantes. Entre os homens foram notificados 3.891 casos, ou seja, 252,5 doentes por 100 mil moradores do DF. 

As causas para explicar a prevalência entre esses grupos são distintas, segundo especialistas ouvido pelo  Correio: doenças crônicas associadas, sistema imunológico em desenvolvimento e o fato de as mulheres cuidarem melhor da saúde do que os homens. 

Mas um fato não muda: a primavera começa no próximo dia 22 e, com ela, a temporada de chuva e calor, condições perfeitas para a reprodução do mosquito. É justamente agora, na transição do inverno para a primavera, o momento estratégico para a prevenção, segundo o infectologista do Hospital Brasília, da Rede Américas, André Bon.

O especialisa explica que, ao contrário do senso comum, o mosquito Aedes aegypti circula o ano inteiro. “Sejam os mosquitos que sobreviveram ao período da chuva ou os que conseguem se reproduzir em locais próximos a rios, lagos, lagoas, ou locais que acumulam água artificialmente por medida de irrigação, por exemplo”, elenca.

O médico ressalta ainda que os ovos do mosquito ficam viáveis durante mais de um ano. “Então, se algum lugar que tem ovos de mosquito é regado artificialmente, pode levar à eclosão do mosquito e, eventualmente, reiniciar um ciclo de transmissão se tiver algum paciente infectado com dengue no redor”, detalha André Bon.

Grupo vulnerável

Além das mulheres, os bebês menores de 1 ano estão entre as vítimas com alta prevalência da doença. Foram registrados 151 casos entre 29 de dezembro de 2024 a 6 de setembro de 2025. À primeira vista, pode parecer pouco, mas não é. A análise de número de casos por 100 mil habitantes mostra que a incidência entre as crianças dessa faixa etária é a segunda mais alta, com 358,8 por 100 mil. Outro grupo que chama a atenção é aquele composto por idosos acima de 80 anos. A incidência da dengue para essa população é de 319,8 casos por 100 mil moradores. 

CID-Dengue
Bebês, idosos e mulheres são grupos mais atingidos pela dengue(foto: Valdo Virgo)

Dor de cabeça, calafrios, fraqueza, enjoo e dor no corpo. Os sintomas afetaram a servidora pública aposentada Regiane Alves dos Santos, 50 anos, quando ela teve dengue. “Até beber água me dava enjoo. Por 10 dias, tive muita coceira, que nada passava. Passei uma noite inteira sem dormir me coçando. A fraqueza é surreal, nunca senti nada parecido”, relembra Regiane, moradora de Planaltina.

Antes de pegar a doença, ela cuidava apenas de não deixar água acumulada em casa. “Mas depois fiquei sempre atenta aos possíveis criadouros, onde têm mais mosquitos. Uso roupas de manga longa e calças compridas em locais com possível incidência de mosquitos”, conta. 

Segundo o infectologista Henrique Lacerda, uma possível explicação para a maior incidência entre mulheres pode ser porque elas costumam procurar os serviços de saúde com maior regularidade, o que aumenta a notificação de casos nesse grupo. “Já os idosos são mais vulneráveis porque, além do envelhecimento natural do sistema imunológico, muitos apresentam doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, que aumentam o risco de evolução para formas graves da doença”, complementa. “No caso dos bebês, o risco é ainda maior, devido ao sistema imunológico em desenvolvimento e à possibilidade de desidratação rápida, o que pode tornar a dengue potencialmente mais grave”, diz o médico.

Queda

De 29 de dezembro a 6 de setembro deste ano, o número de casos de dengue caiu drasticamente no DF. Em 2024, quando houve uma epidemia de dengue, foram contabilizados 274.826. No mesmo período deste ano, com os casos controlados, há 8.879 ocorrências. Apesar disso, o momento não é para se acomodar. 

Henrique Lacerda alerta que o combate ao mosquito é responsabilidade do poder público, mas também uma obrigação da população. “Medidas simples, como tampar caixas d’água, descartar pneus velhos em locais apropriados, limpar calhas e vasos de plantas, reduzem significativamente a proliferação do mosquito. Além disso, o uso de repelentes deve ser incentivado, especialmente em bebês (a partir da idade recomendada), idosos e gestantes, como forma adicional de proteção”, reforça Henrique Lacerda. 

Quanto ao uso de repelente, os especialistas alertam que a composição deve ter algumas substâncias específicas. O DET deve ser entre 20 e 50% e caridina acima de 20%. Além disso, é importante colocar telas nas janelas de casa. Para quem tem ar-condicionado, deixá-lo ligado em baixas temperaturas reduz a atividade do mosquito. Para os bebês, os mosquiteiros nas camas podem ajudar de maneira significativa a reduzir o contato com o inseto, sempre tendo o cuidado de observar se não há nenhum mosquito no berço da criança, no momento em que se feche a proteção. 

Reforço no combate

Essa semana, foi inaugurada a biofábrica de Wolbachia, no Núcleo Regional de Produção Oswaldo Paulo Forattini, no Guará. No local, serão criados mosquitos Wolbitos, que são Aedes aegypti manipulados e acrescidos da bactéria Wolbachia, capaz de impedir a transmissão dos vírus da dengue, da zika, da chikungunya e da febre-amarela. 

Os ovos dos chamados “mosquitos amigos” (Wolbitos) vêm de Curitiba (PR) e chegam ao DF já encapsulados. Na biofábrica da Secretaria de Saúde (SES-DF), eles são colocados em potes com água e alimento, em um ambiente com temperatura controlada, por volta de 30ºC, para melhor evolução e reprodução.

Entre sete e 14 dias, as larvas e pupas tornam-se mosquitos adultos. Os recipientes com os Wolbitos são transportados em caixas para os locais onde serão soltos. O CEO da Wolbito, Luciano Moreira, destacou a proporção inédita da operação no DF e no Entorno. “É nossa maior operação com método Wolbachia no Brasil. Estamos preparados para produzir até seis milhões de mosquitos por semana, distribuídos em 20 mil potinhos, com equipes em campo, 26 viaturas e 97 servidores dedicados”, afirmou.

A instalação da biofábrica faz parte da Estratégia Nacional de Enfrentamento das Arboviroses no Brasil, do Ministério da Saúde (MS), por meio da Fiocruz. O governo federal investiu R$ 9,7 milhões na ação que beneficiará Brasília e mais duas cidades do Entorno — Valparaíso e Luziânia — com altas taxas de transmissão de dengue nos últimos anos. 

O governo federal, em parceria com as secretarias de saúde, vai fazer a liberação de mosquitos com Wolbachia por 26 semanas. 

No caso de Brasília, a soltura desses insetos começou em 10 regiões administrativas: Sobradinho, Sobradinho 2, Brazlândia, Varjão, SCIA, Estrutural, Fercal, Itapoã, Arapoanga e Paranoá. Segundo especialistas, a expectativa é de que, a longo prazo, a presença dos Wolbitos substitua a população original do Aedes aegypti, reduzindo expressivamente a circulação de vírus no ambiente.

A bactéria Wolbachia está presente em cerca de 60% dos insetos do planeta, mas não no Aedes aegypti. Inserida de forma artificial, ela impede que o mosquito desenvolva os vírus da dengue e de outras doenças, tornando-o incapaz de transmiti-los. Quando os mosquitos modificados são soltos no ambiente, eles se reproduzem com os selvagens e passam a bactéria às novas gerações. O método é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reduziu em 88,8% os casos de dengue em Niterói (RJ), primeira cidade a adotá-lo no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. 

Monitoramento e vacinação

O secretário de Saúde do DF, Juracy Cavalcante, explicou que o monitoramento dos mosquitos que estão sendo liberados será feito com novas ferramentas digitais. “A ideia é promover uma mudança na população de mosquitos. Vamos acompanhar os resultados com armadilhas e tablets, que nos darão dados em tempo real para ações rápidas e eficazes”, declarou Cavalcante no dia da inauguração da fábrica. 

Outra arma contra a dengue é a vacinação. No DF, a imunização está disponível na rede pública de saúde para crianças e adolescentes de 10 anos completos até 14 anos. São duas doses, com intervalo de 90 dias.

Caso a criança ou adolescente tenha sido diagnosticada com dengue, é necessário aguardar seis meses para iniciar o esquema vacinal. Se houve a contaminação por dengue após a primeira dose, deve-se manter a data prevista para a segunda dose, desde que haja um intervalo de 30 dias entre a infecção e a segunda dose.

Para pessoas acima dessa faixa etária, o imunizante está disponível apenas na rede privada.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense

Foto: Reprodução/Freepik




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