Um potinho de leite pode salvar até dez vidas. No colo de mães que enfrentam os desafios da amamentação, o leite materno é um alimento considerado “padrão ouro” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que garante nutrição, proteção e esperança. A alusão deu origem ao Agosto Dourado, mês dedicado à conscientização sobre a importância do aleitamento materno. E o Distrito Federal se destaca como referência no apoio às famílias: são 14 bancos de leite humano (BLHs) e sete postos de coleta (PCLHs) espalhados por todas as regiões.
De janeiro a julho, foram cerca de 3,6 mil doadoras e mais de 12 mil litros de leite humano coletados no DF, superando o índice registrado no mesmo período de 2024 (11,7 mil litros). O leite doado é destinado principalmente a bebês prematuros e de baixo peso internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais. No primeiro semestre, cerca de 9,4 mil bebês foram atendidos pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR).
Mariane Curado Borges, da Coordenação de Políticas de Aleitamento Materno da Secretaria de Saúde (SES-DF), explica que qualquer mulher em fase de amamentação pode ser doadora. O cadastro pode ser feito pelo telefone 160 (opção 4) ou pela rede social do Amamenta Brasília. “Esse alimento é fundamental para a recuperação dos pequenos, reduzindo o tempo de internação e aumentando as chances de sobrevivência. Cada mãe que doa está ajudando não só seu próprio filho, mas muitas outras crianças que precisam”, afirma.
Alívio e acolhimento
No banco de leite as mulheres encontram acolhimento e recebem orientações, que podem estimular o retorno natural da produção de leite materno. Além da doação, o trabalho das equipes multiprofissionais envolve médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas e fonoaudiólogos, oferecendo acolhimento a mães que enfrentam dificuldades na amamentação.
É o caso da estudante Maria Eduarda Vieira dos Santos, de 17 anos. Ela conheceu o banco de leite ao dar à luz em Sobradinho e doou leite materno no primeiro mês de vida do filho. Agora, no segundo mês de vida do pequeno, encontrou dificuldades de amamentar — um processo desafiador, mas natural, que pode ocorrer por diversos fatores, desde problemas físicos, como mamilos rachados ou mastite, até fatores emocionais, como estresse e ansiedade. “Para as mães que não conseguem, saber que existe um espaço que garante esse alimento caso precise é um alívio. O banco de leite é importante demais, especialmente para o atendimento das mães de primeira viagem”, ressalta a mãe.
A jovem Maria Clara Ferreira Santos, de 21 anos, descobriu a importância da doação quando a filha nasceu prematura, de apenas 28 semanas, e precisou do leite do banco para sobreviver. Maria conta que foi um ciclo: ela doou o leite no início e, quando seu bebê precisou do leite ao ser internado, recebeu as doações. “Eu não conseguia ordenhar, mas me tranquilizei porque sabia que ela não ia passar fome. Minha filha recebeu, e outras crianças também foram ajudadas com meu leite”.
Amamentar é mais que nutrir
A Organização Mundial da Saúde recomenda que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de vida e complementado até, pelo menos, os dois anos de idade. No DF, as ações de conscientização e apoio à amamentação ajudam a manter bons índices, mas a doação ainda é essencial para atender a demanda dos hospitais.
“É importante que as mulheres não tenham medo de doar. Muitas acham que vai faltar leite para o filho, mas acontece justamente o contrário: quanto mais se extrai, mais o corpo produz. Doar é um ato de amor que pode salvar até dez bebês”, reforça Mariane.
A coordenadora ressalta ainda que, com o atual estoque nos bancos de leite, é possível atender apenas os bebês que estão internados nas unidades hospitalares. “Se algum dia conseguirmos expandir o nosso estoque, quem sabe será possível atender aqueles bebês que estão em abrigos, que perderam a mãe ou estão em alguma situação de vulnerabilidade”, projeta.
Por Revista Plano B
Fonte Agência Brasília
Foto: Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília