A três meses da realização da 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, de 10 a 21 de novembro, em Belém, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou uma pesquisa (veja os números ao fim da reportagem) que revela que praticamente metade da indústria brasileira tem interesse no evento, mas a outra metade está indiferente. De acordo com o levantamento, 54% dos industriais consideram a COP30 relevante e o mesmo percentual avalia que terá impacto positivo ou muito positivo para o setor. Para 75% dos empresários, o evento pode fortalecer a imagem da indústria brasileira no exterior, e, para 77%, pode ajudar a aumentar as exportações.
As regiões Norte-Centro-Oeste e Nordeste são as que consideram o evento na capital paraense mais relevante — respectivamente, 64% e 60%. O Sul é a região com menos indústrias interessadas: o percentual dos empresários com muito ou algum interesse na COP30 é de 49%.
“Claro que a gente percebe um interesse maior no Norte-Centro-Oeste e no Nordeste pelo fato de a COP30 estar acontecendo por lá, mas também pelo Nordeste, onde a agenda da economia verde vem se desenvolvendo. Não há desinteresse no Sul e no Sudeste, mas é menor do que nas demais regiões, e, ainda assim, bem relevante”, afirmou Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, ao Correio, ao comentar os dados da pesquisa.
Realizada pela Nexus, a pesquisa Sustentabilidade e Indústria ouviu representantes de mil indústrias de pequeno, médio e grande portes. As entrevistas foram realizadas entre 15 de maio e 17 de junho de 2025. Na amostra, 80% foram empresas de médio e pequeno porte e 20%, grandes.
Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), admitiu que há problemas com a hospedagem devido aos preços. “Esse é um desafio, mas existe um esforço coletivo para superarmos essas dificuldades”, afirmou.
Carvalho ressaltou que, em junho, foi lançada uma plataforma para acompanhar a evolução da ocupação e as autoridades têm agido de forma a puxar os preços para dentro da “razoabilidade”. “Há uma oferta de 52 mil leitos em Belém, via plataforma, para ofertar preços condizentes ao que se espera. A hospedagem é um calo chato e atrapalha, mas a nossa jornada é muito maior do que isso”, afirmou. Davi Bontempo, por sua vez, destacou que a chegada de dois navios para ampliar a oferta de leitos em Belém tende a baixar os preços.
Em abril, o governo federal anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro para hospedar as delegações durante a COP 30, em Belém, o transatlântico Costa Diadema, com capacidade para mais de 4, 5 mi hóspedes, e o MSC Seaview, que pode acomodar mais de 5 mil passageiros. Os representantes da CNI reconhecem que essa discussão sobre hospedagem tem atrapalhado o debate sobre os verdadeiros objetivos da COP e sobre os desafios para o financiamento.
Já o Observatório do Clima emitiu uma nota, ontem, afirmando que a COP 30 corre o risco de ser a mais excludente da história uma vez que a discussão sobre a conferência está sendo monopolizada pelo único tema que deveria ser um não-assunto: a infraestrutura hoteleira. “A negligência do governo federal e do governo do Pará, que tiveram dois anos e meio para equacionar a questão das acomodações na cidade e não o fizeram, transformaram esse tema numa bomba que explodiu agora, com países pedindo mudança de sede e observadores da sociedade civil dizendo que não terão condições de vir”, destaca, para acrescentar:
“Sem uma solução imediata para a crise, a COP no Brasil arrisca ser a mais excludente da história, com redução no número de delegações nacionais, de membros de órgãos constituintes e outros observadores e da imprensa”, acrescentou. Na avaliação da entidade, a expectativa de fazer a “COP do povo” em Belém, com mobilização maciça pelo clima, se desfaz. “Os custos proibitivos de hospedagem reduziram e ainda reduzirão mais o número de representantes da sociedade civil global que comparecerção. Agora, a corrida é para que líderes mundiais não boicotem a Conferência e para que todos os países possam mandar delegações completas”, emendou o comunicado.
Ainda segundo a pesquisa da CNI, os principais obstáculos ao aumento da sustentabilidade são o custo elevado das tecnologias (38%) e a falta de incentivos ou políticas públicas específicas (36%). A complexidade regulatória e burocrática, a falta de mão de obra qualificada para inovação verde, a ausência de cultura empresarial voltada à sustentabilidade e a falta de financiamento e crédito direcionado foram apontados por, respectivamente, 29%, 27%, 26% e 18% dos entrevistados.
Sustentabilidade
Em paralelo à COP30, a CNI pretende contribuir para o debate da sustentabilidade junto ao setor privado. Em março, a confederação lançou a Sustainable Business COP30 (SB COP30), iniciativa voltada à ampliação da participação do setor nas negociações climáticas. O grupo reunirá propostas, experiências e soluções do setor privado com foco na transição para uma economia de baixo carbono.
O chairman da SB COP30, Ricardo Mussa, relata que a iniciativa nasceu como um modelo do B20, iniciativa de empresários dos países do G20 — que reúne as 20 maiores economias do planeta. A CNI pretende que o colegiado seja constante nas próximas conferências do clima.
“A SB COP30 almeja reforçar o papel do setor privado na governança climática”, destacou Mussa. Ele adiantou que, em setembro, na semana do clima na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, o grupo apresentará 40 cases de sucesso.
A ideia é criar uma lista de sugestões para que os governos adotem esses modelos em políticas públicas para contribuir com a redução de emissões e também acelerar o processo de transição energética. A curadoria vai apresentar esses 40 projetos selecionados na pré-COP30, que acontecerá em Brasília, e na COP30, em Belém. Conforme enfatizou, o grupo já recebeu mais de 700 casos de sucesso de várias empresas e a expectativa é de que até o fim do prazo esse número ultrapasse 1 mil.
Na avaliação de Mussa, apesar de ser um dos principais países que consomem energia fóssil, a China tem feito investimentos relevantes em energia renovável, como ampliar a capacidade de produção de energia solar equivalente a 17 usinas de Itaipu.
“Brasil e China são economias complementares no processo de transição energética”, destacou.
Dados da pesquisa — Apoio do empresariado à COP30
De acordo com levantamento da CNI, 54% dos industriais consideram relevante a conferência do clima, em Belém. Custo elevado das tecnologias é um dos maiores entraves para a sustentabilidade
Nível de interesse da indústria pela COP 30
- Muito — 22%
- Algum — 32%
- Pouco — 29%
- Nenhum — 17%
- Não respondeu — 1%
Divisão por regiões
Região Muito interesse Algum interesse Pouco interesse
Norte-Centro-Oeste 44% 20% 26%
Nordeste 21% 39% 33%
Sudeste 22% 31% 27%
Sul 15% 34% 32%
Principais obstáculos da sustentabilidade segundo os entrevistados
- Custo elevado das tecnologias — 38%
- Falta de incentivos ou políticas públicas específicas — 36%
- Complexidade regulatória e burocrática — 29%
- Falta de mão de obra qualificada para inovação verde — 27%
- Ausência de cultura empresarial voltada à sustentabilidade — 26%
- Falta de financiamento e crédito direcionado — 18%
Fontes:CNI/Nexus
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Iano Andrade/CNI