A trajetória de três irmãos músicos e compositores vindos do Piauí para Brasília virou livro. O manuscrito Clodo, Climério e Clésio: a profissão do sonho, organizado pela pesquisadora Dea Barbosa e escrito pelo jornalista e cronista cultural Severino Francisco, sub-editor do caderno Diversão&Arte, do Correio Braziliense, foi lançado, no Beirute, na 109 Sul.
A obra conta a história dos irmãos, que se mudaram para Brasília ainda jovens, em busca de uma vida melhor e de oportunidades na recém-inaugurada capital. Amiga do trio, a pesquisadora Dea deu pontapé no projeto e o inscreveu no Fundo de Apoio à Cultura (FAC), com a intenção de fazer apenas a pesquisa biográfica, mas o trabalho tomou forma e virou um livro. Na companhia de Severino Francisco, a biografia destacou a personalidade e a trajetória de cada um deles.
A expansão do grupo era tanta que os irmãos tornaram-se importantes nomes da música brasileira, com canções gravadas por artistas famosos, como Fagner, Ney Matogrosso, Milton Nascimento e Elba Ramalho. Mesmo sem buscar fama ou seguir as regras do mercado musical, deixaram um legado forte e poético.
Como em uma viagem, o livro traz entrevistas com parceiros musicais e mostra tanto as músicas mais conhecidas quanto produções pouco divulgadas. Também destaca a poesia dos irmãos, especialmente de Climério, que publica poemas diariamente nas redes sociais. Severino Francisco destrincha as personalidades de cada um dos irmãos. Para isso, o autor contou com a ajuda de Climério e Clodo, morto em julho de 2024. Durante a pesquisa, Dea Barbosa também teve ajuda de Lia, filha de Clésio, que morreu em 2010.
Dea e Severino entrevistaram alguns dos parceiros mais importantes dos irmãos. Entre eles, Fagner, Ednardo, Fernanda Takai, Roger Rogério, Teti e Anapolino, guitarrista criador do grupo Matuskela, que acompanhou Clodo no Festival da Canção Jovem do Ceub de 1972, no qual seria premiado com a canção Placa luminosa, e conheceria Fagner, presidente do júri de premiação.
Entre entrevistas e análises, Severino Francisco dedicou-se mais de um ano às escrituras. “Foi um convite muito especial. Eu já tinha escrito 12 livros — como autor e participante — sobre Brasília, e esse é como se fosse uma continuidade de todos os outros, principalmente do Da poesia à eletricidade, que lancei quando a capital completou 50 anos”.
Segundo o cronista, a ideia foi tentar situar a história dos irmãos em Brasília. Na obra, menções como as superquadras são citadas, especialmente da 312 Norte, onde o trio residiu. “Eu tento puxar esse fio do Piauí e isso faz parte de Brasília, porque não se apaga a origem. Na verdade, você só incorpora e agrega. São três personagens importantes na música popular brasileira no pós-tropicalista e pós-bossa nova”, detalhou Severino. Além disso, o jornalista evidencia a força da poesia dos músicos para narrar a obra.
O poeta Nicolas Behr compareceu ao lançamento do livro e aproveitou para comemorar o aniversário de 67 anos com a família e amigos. “O Clodo está na minha biografia afetiva. Foi ele que conseguiu meu primeiro trabalho em uma agência de publicidade, em 1980. Persisti à época, e consegui ser redator. Esse livro é um registro necessário. A música nunca se perde, mas a obra ajuda a fixar mais ainda em nossa memória.”
De pai para filhos
Os irmãos musicistas Pedro Ferreira (cantor e percussionista) e João Ferreira (arranjador do Natiruts e professor da Escola de Música de Brasília) relembraram histórias de seu pai, Clodo, durante o CB.Poder especial — parceria do Correio com a TV Brasília — de ontem. Eles destacaram a importância do legado do pai e contaram os planos para levar esse legado adiante. Aos jornalistas Samanta Sallum e Severino Francisco, a dupla também abordou o cenário musical de Brasília. Outro ponto abordado durante a entrevista foi o show Existência, em homenagem a Clodo Ferreira, que acontece amanhã, no Clube do Choro.
Ao longo dos anos, os integrantes do trio — Clodo, Climério e Clésio — receberam diversas homenagens. Em 2025, Clodo foi homenageado no Prêmio Candango de literatura com um show feito pelos filhos que cataram músicas do último álbum lançado em vida pelo pai. O trio também recebeu o título de Cidadão Honorário pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), também em 2025.
Agora, João e Pedro farão um show em homenagem ao pai. Sobre isso, João afirmou que passará por diversos momento de Clodo. “Iremos fazer um apanhado geral da obra musical dele. Tem muita coisa do trio (Clodo, Climério e Clésio), mas também tem coisas que vieram depois, como composições solo, parcerias, como com Zeca Bahia, Petrúcio Maia e Fagner, além de composições inéditas”, afirmou.
Pedro Ferreira também ressaltou a importância do pai em sua vida, ao que definiu como uma “influência total”. “Na verdade, a influência do meu pai não é só na musicalidade, tenho influência dele na minha vida inteira. É uma presença muito grande. Ele era uma pessoa grandiosa. Apesar da partida, ele ainda continua muito presente”, disse.
Sobre o impacto das obras do trio composto pelo pai (Clodo) e os tios (Climério e Clésio), Pedro afirmou que a música apresentada por eles estava muito à frente do tempo. “Sou suspeito para falar, mas coloco entre os 10 melhores (artistas) da MPB. As músicas tinham uma profundidade nas letras sem igual. Também havia uma forma de fazer arranjos e de mostrar a música que traz muitos elementos da cultura popular brasileira. Tinha a sonoridade da música nordestina, mas tinha um refinamento na melodia e na harmonia sem igual”, contou.
Por sua vez, João disse que o impacto do trio vai além da música. “Eles possuem uma trajetória muito importante. O legado deles está na educação e também na influência de novas gerações”, complementou.
Cenário da MPB
Pedro Ferreira, cantor e percussionista, comentou sobre o atual cenário da MPB e se é possível ainda ser artista no Brasil. “Eu acredito que não sejam as condições ideais para que bons músicos tenham uma vida digna e consigam pagar suas contas com tranquilidade”, afirmou. Ele ainda relata que o mercado musical apresenta alguns empecilhos para os músicos, como a Lei do silêncio. “Isso diminui muito o espaço de intervenção musical na capital. É uma questão que precisamos evoluir ao longo do tempo”, complementou.
João contou que conseguiu estabilidade como professor, o que permitiu continuar vivendo da música. “Fiz o ensino superior na Universidade de Brasília (UnB). Depois fui para a Escola de Música de Brasília, onde dou aula desde 2008. Aí que consegui estabilidade profissional, que me permitiu viver da música. É um caminho muito difícil, mas é possível viver da música, sim”, acrescentou.
Sobre a possibilidade da expansão do mercado fonográfico brasileiro, João acredita que o Brasil tem espaço no cenário mundial. “Se você olhar mundialmente, o Brasil é um dos países que mais exporta músicas. A Bossa Nova, o violão brasileiro e o samba, por exemplo, são gêneros reconhecidos mundo afora. E também há muitos artistas bons surgindo”, afirmou.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
De pai para filhos
Os irmãos musicistas Pedro Ferreira (cantor e percussionista) e João Ferreira (arranjador do Natiruts e professor da Escola de Música de Brasília) relembraram histórias de seu pai, Clodo, durante o CB.Poder especial — parceria do Correio com a TV Brasília — de ontem. Eles destacaram a importância do legado do pai e contaram os planos para levar esse legado adiante. Aos jornalistas Samanta Sallum e Severino Francisco, a dupla também abordou o cenário musical de Brasília. Outro ponto abordado durante a entrevista foi o show Existência, em homenagem a Clodo Ferreira, que acontece amanhã, no Clube do Choro.
Ao longo dos anos, os integrantes do trio — Clodo, Climério e Clésio — receberam diversas homenagens. Em 2025, Clodo foi homenageado no Prêmio Candango de literatura com um show feito pelos filhos que cataram músicas do último álbum lançado em vida pelo pai. O trio também recebeu o título de Cidadão Honorário pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), também em 2025.
Agora, João e Pedro farão um show em homenagem ao pai. Sobre isso, João afirmou que passará por diversos momento de Clodo. “Iremos fazer um apanhado geral da obra musical dele. Tem muita coisa do trio (Clodo, Climério e Clésio), mas também tem coisas que vieram depois, como composições solo, parcerias, como com Zeca Bahia, Petrúcio Maia e Fagner, além de composições inéditas”, afirmou.
Pedro Ferreira também ressaltou a importância do pai em sua vida, ao que definiu como uma “influência total”. “Na verdade, a influência do meu pai não é só na musicalidade, tenho influência dele na minha vida inteira. É uma presença muito grande. Ele era uma pessoa grandiosa. Apesar da partida, ele ainda continua muito presente”, disse.
Sobre o impacto das obras do trio composto pelo pai (Clodo) e os tios (Climério e Clésio), Pedro afirmou que a música apresentada por eles estava muito à frente do tempo. “Sou suspeito para falar, mas coloco entre os 10 melhores (artistas) da MPB. As músicas tinham uma profundidade nas letras sem igual. Também havia uma forma de fazer arranjos e de mostrar a música que traz muitos elementos da cultura popular brasileira. Tinha a sonoridade da música nordestina, mas tinha um refinamento na melodia e na harmonia sem igual”, contou.
Por sua vez, João disse que o impacto do trio vai além da música. “Eles possuem uma trajetória muito importante. O legado deles está na educação e também na influência de novas gerações”, complementou
Cenário da MPB
Pedro Ferreira, cantor e percussionista, comentou sobre o atual cenário da MPB e se é possível ainda ser artista no Brasil. “Eu acredito que não sejam as condições ideais para que bons músicos tenham uma vida digna e consigam pagar suas contas com tranquilidade”, afirmou. Ele ainda relata que o mercado musical apresenta alguns empecilhos para os músicos, como a Lei do silêncio. “Isso diminui muito o espaço de intervenção musical na capital. É uma questão que precisamos evoluir ao longo do tempo”, complementou.
João contou que conseguiu estabilidade como professor, o que permitiu continuar vivendo da música. “Fiz o ensino superior na Universidade de Brasília (UnB). Depois fui para a Escola de Música de Brasília, onde dou aula desde 2008. Aí que consegui estabilidade profissional, que me permitiu viver da música. É um caminho muito difícil, mas é possível viver da música, sim”, acrescentou.
Sobre a possibilidade da expansão do mercado fonográfico brasileiro, João acredita que o Brasil tem espaço no cenário mundial. “Se você olhar mundialmente, o Brasil é um dos países que mais exporta músicas. A Bossa Nova, o violão brasileiro e o samba, por exemplo, são gêneros reconhecidos mundo afora. E também há muitos artistas bons surgindo”, afirmou.
*Estagiário sob a supervisão
de Patrick Selvatti
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press