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Um jovem na luta contra a insegurança alimentar

O estudante manauara Eli Minev, 17 anos, ganhou reconhecimento mundial com o projeto...

O estudante manauara Eli Minev, 17 anos, ganhou reconhecimento mundial com o projeto social Amazônia Chibata: Ariá, com foco no resgate e na valorização do cultivo do ariá, tubérculo tradicional da Amazônia, como alternativa no combate à insegurança alimentar. Ele levou a iniciativa para International Science and Engineering Fair (ISEF), em maio de 2025, em Columbus, Ohio, nos Estados Unidos, a maior feira de ciências do mundo. Ao Correio, o jovem falou sobre a importância do conhecimento tradicional e da ciência para promover um modelo de desenvolvimento sustentável para as comunidades urbanas e rurais da Amazônia.

O que motivou um estudante de 17 anos a se dedicar a um projeto com tema tão complexo como a insegurança alimentar?

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Sempre me incomodou o contraste entre a riqueza da biodiversidade da Amazônia e a realidade de insegurança alimentar que muitas famílias enfrentam. O ponto foi quando percebi que havia alimentos do nosso território, como o ariá, que podiam fazer parte da solução, mas que estavam esquecidos. Quando comecei a pesquisar, vi que quase não havia informação disponível. Isso me motivou a investigar mais e buscar formas de levar esse conhecimento às pessoas.

Qual é o maior desafio de continuar com esse projeto?

Um dos principais desafios é a falta de rizomas suficientes para distribuir e começar novos plantios. Como o ariá ainda não está no mercado formal, sua multiplicação depende de tempo e cuidado. Também enfrentamos dificuldades logísticas, principalmente por conta da distância e da seca severa no Amazonas. Lidamos com isso construindo redes de apoio com pesquisadores, voluntários e famílias.

Ser reconhecido como Jovem Transformador 2025 pela Ashoka é uma grande conquista. O que esse prêmio significa para você e para o projeto?

É uma honra enorme. A Ashoka é referência em transformação social, e ser reconhecido por eles me dá ainda mais força para continuar. Mas esse prêmio não é só meu: é de todos que acreditaram no projeto desde o início: minha família, as pesquisadoras do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as lideranças comunitárias, os amigos que plantaram comigo. Isso significa que iniciativas locais, conectadas à ciência e ao território, podem inspirar outras mudanças pelo mundo.

Você pretende expandir o projeto para outras comunidades ou outros alimentos?

Sim. A ideia é ampliar a rede de hortas e agroflorestas urbanas e ribeirinhas, começando por onde o projeto já está presente. Quero que esse trabalho inspire jovens em outras regiões a olharem para seus territórios e perceberem que a solução pode estar debaixo dos nossos pés

O livro sobre o ariá foi semifinalista do Prêmio Jabuti Acadêmico e está em mais de 100 bibliotecas. Você esperava esse reconhecimento?

O objetivo era dar visibilidade ao ariá, para que mais pessoas pudessem conhecer, valorizar e cultivar esse alimento. O livro mistura ciência, receitas, memórias e histórias de vida. É um convite para olhar a comida como cultura e saúde. Ver esse trabalho sendo reconhecido e chegando a tantas bibliotecas foi muito emocionante. Fico muito feliz em ver que a mensagem está chegando longe.

Como você conheceu o ariá e por que decidiu basear seu projeto nele?

Conheci o ariá por causa da minha avó. Ela contava que comia esse tubérculo na infância, mas que ele desapareceu da mesa por muitos anos. Ela só voltou a experimentá-lo décadas depois, quando colhemos os primeiros frutos da minha própria plantação, em um sistema agroflorestal que desenvolvi. O curioso é que, mesmo cultivando, eu pouco sabia sobre ele. Isso despertou em mim um desejo profundo de entender melhor aquele alimento que unia passado e presente da minha família. Foi assim que procurei a doutora Noêmia, no Inpa, e descobri que quase não havia conteúdo acessível sobre o ariá. Com um grupo de pesquisa do Inpa, transformamos então essa curiosidade em um projeto que reúne ciência, cultura e território em torno de um tubérculo tradicional da Amazônia, com potencial para transformar realidades e resgatar memórias.

Ele é um alimento tradicional indígena. Como foi o processo de aprendizagem sobre o ariá?

Foi um processo coletivo e de muito respeito. Tive o apoio das pesquisadoras Noêmia Ishikawa, Ruby Vargas Isla, e dos outros nove integrantes do nosso grupo de pesquisa no Inpa, que me orientaram desde o começo. Também aprendi com lideranças indígenas, especialmente em visitas a comunidades e feiras locais, ouvindo histórias, modos de preparo, saberes ancestrais. O projeto é isso: ciência e tradição caminhando juntas.

O projeto já beneficiou mais de 500 famílias, como é a logística de levar os alimentos até elas?

Temos focos de plantio em nove municípios diferentes, com articulação feita em parceria com lideranças locais, pesquisadores e organizações comunitárias. A logística é desafiadora por conta das distâncias, do clima e da falta de infraestrutura, mas é também colaborativa: quem participa do projeto se engaja na produção, no cuidado com o solo e na distribuição dos rizomas, criando redes locais de fortalecimento alimentar.

Deixe mensagem para outros jovens que têm uma ideia para mudar o mundo, mas não sabem por onde começar.

Comece pequeno e comece de onde você está. Uma ideia pode parecer simples, mas se ela vem do coração e tem conexão com sua realidade, ela já é potente. Busque apoio, compartilhe com quem acredita em você e esteja aberto para aprender.

* Estagiário sob a supervisão de Luana Patriolino

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Divulgação

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