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Incêndios florestais e riscos químicos: pesquisa avalia impacto da fumaça na saúde dos bombeiros do DF

Com a intensificação e maior frequência dos incêndios florestais no Distrito Federal, um...

Com a intensificação e maior frequência dos incêndios florestais no Distrito Federal, um estudo fomentado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) está investigando os riscos químicos aos quais os bombeiros militares estão expostos durante o combate ao fogo. O projeto, intitulado “Avaliação de risco químico para bombeiros militares por exposição à fumaça em incêndios florestais no Distrito Federal”, é conduzido pela professora Eloísa Dutra Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o bombeiro militar e doutorando Fausto Jaime Miranda de Araújo, e foi selecionado pelo edital Demanda Espontânea (2022).

A pesquisa é inédita no Brasil por avaliar a exposição dos bombeiros em condições reais de combate ao fogo, um desafio que coloca esses profissionais em contato direto com substâncias tóxicas e potencialmente cancerígenas. O estudo busca gerar dados concretos para embasar protocolos de segurança e políticas públicas voltadas à saúde ocupacional desses trabalhadores.

Trajetória e motivação

Com uma carreira consolidada na área da toxicologia, Eloísa Dutra Caldas é professora titular do Departamento de Farmácia da UnB desde 1997 e uma das principais referências no país em toxicologia ocupacional. Formada em química e mestre em química analítica pela UnB, fez doutorado em química ambiental pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, com foco nos impactos de substâncias químicas na saúde humana. Há mais de 20 anos, coordena pesquisas que avaliam riscos e exposição a contaminantes, sempre com o objetivo de proteger a saúde de trabalhadores em situações críticas.

A proposta do estudo nasceu a partir da experiência do bombeiro militar Fausto Jaime Miranda de Araújo, doutorando em ciências da saúde na UnB. Graduado em agronomia e com mestrado em toxicologia alimentar, Fausto sempre esteve envolvido em projetos de pesquisa, mas foi sua vivência no Corpo de Bombeiros que acendeu o alerta para a falta de medidas preventivas no combate a incêndios florestais.

“Desde o início do meu trabalho na corporação, percebi que a exposição à fumaça é um problema grave, especialmente nos incêndios florestais, onde muitas vezes não usamos nem máscaras de proteção. O poder público não tem dado a atenção devida a esse risco; e, com as mudanças climáticas, os incêndios tendem a aumentar”, explica.

Além da experiência prática, Fausto também se especializou em engenharia de segurança do trabalho, o que fortaleceu sua compreensão sobre os perigos invisíveis que cercam os bombeiros. Para ele, este é um problema de saúde pública global: “Somente recentemente a comunidade científica começou a dar atenção à proteção dos bombeiros florestais. O cenário mundial, com incêndios cada vez mais intensos e frequentes, reforça a urgência de pesquisas como a nossa”.

O que a fumaça revela: substâncias tóxicas e desafios de análise

As primeiras análises indicam a presença de poluentes altamente tóxicos, como benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno, formaldeído, acroleína e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) — compostos reconhecidos por causar sérios danos ao organismo, incluindo doenças respiratórias e câncer. Em várias amostras, os níveis detectados ultrapassaram em muito os limites ocupacionais recomendados, chegando a ser centenas de vezes maiores no caso do benzeno.

Coletar essas informações em condições reais de combate ao fogo foi um desafio à parte. Para garantir dados fiéis à realidade, a equipe desenvolveu um sistema de monitoramento com bombas de coleta instaladas nos uniformes dos bombeiros, exigindo grande logística e apoio do Corpo de Bombeiros. Mais de 100 tentativas em diferentes focos de incêndio foram necessárias para obter 35 amostras válidas, revelando o quão complexa é a tarefa de mensurar a exposição a substâncias invisíveis no calor do combate.

Impacto e próximos passos

Mais do que um avanço científico, o estudo tem um papel social evidente: proteger a saúde dos bombeiros e, indiretamente, da população exposta à fumaça. Os resultados preliminares reforçam a necessidade urgente de medidas como o uso de equipamentos de proteção respiratória adequados, algo que ainda não é rotina na corporação.

A equipe agora está na fase de análise detalhada dos dados e na preparação de artigos científicos. Também está prevista uma nova etapa com a coleta de material biológico, como amostras de urina, para avaliar de forma ainda mais precisa os impactos da exposição química no organismo dos bombeiros. Com apoio da FAPDF, a pesquisa busca transformar esses resultados em recomendações práticas e políticas públicas, contribuindo para protocolos de segurança mais rigorosos e ações de prevenção que beneficiem não apenas a corporação, mas toda a população do DF, que também sofre os efeitos da fumaça durante os períodos de queimadas.

*Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

Por Revista Plano B

Fonte Agência Brasília

Foto: Divulgação/CBMDF

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