Em meio à escalada de tensões comerciais com os Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (29/7) que o Brasil não abandonará a mesa de negociação, mas também não aceitará “subordinação” em sua relação com o governo norte-americano.
Em entrevista coletiva concedida na portaria do Ministério da Fazenda, o chefe da equipe econômica disse acreditar que ainda há espaço para diálogo e que empresários norte-americanos já estariam demonstrando maior sensibilidade ao pleito brasileiro.
“Tem que haver uma preparação antes, para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação e não haja um sentimento de viralatismo, de subordinação”, pontuou o ministro.
Segundo ele, “o Brasil nunca abandonou a mesa de negociação”. “Acredito que esta semana haja algum sinal de interesse em conversar. Está ficando mais claro o nosso ponto de vista, inclusive para autoridades dos EUA”, emendou.
O ministro também minimizou a proximidade do 1º de agosto, quando entra em vigor a nova alíquota imposta unilateralmente pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Segundo ele, a data “não é fatídica” e pode ser alterada. “Não sei se vai dar até dia primeiro. Mas o que importa não é essa data fatídica. Não é uma data fatídica. É uma data que pode ser alterada por eles, pode entrar em vigor e nós nos sentarmos e rapidamente concluímos uma negociação”, disse em referência à próxima sexta-feira.
Protocolo e respeito
Sem confirmar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende telefonar diretamente ao presidente Donald Trump, Haddad afirmou que conversas entre chefes de Estado exigem preparação e respeito mútuo. “Não é uma questão de sair correndo atrás. É preciso uma liturgia, um protocolo. O presidente Lula representa o povo brasileiro. E o respeito à soberania passa por isso.”
Em tom crítico à política externa adotada na gestão de Jair Bolsonaro (PL), o ministro frisou que o atual governo quer virar a página da “subserviência”. “Bolsonaro foi o presidente mais subserviente da história do Brasil. Nós vamos nos sentar à mesa com humildade, mas com dignidade, com os valores do nosso país.”
Ainda segundo Haddad, o governo já apresentou ao presidente Lula um plano de contingência com diversos cenários para mitigar os impactos das tarifas sobre o setor produtivo e o emprego. O chefe do Executivo, segundo o ministro, demonstrou tranquilidade com as medidas e reforçou seu histórico de boa relação com todos os presidentes norte-americanos com quem já dialogou.
“Estamos muito confiantes de que preparamos um trabalho robusto para enfrentar esse momento, que é externo e não foi criado por nós. O Brasil vai cuidar das suas empresas, dos seus trabalhadores, e, ao mesmo tempo, manter a busca por racionalidade e respeito mútuo.”
Haddad evitou, porém, detalhar quais medidas estão em estudo, afirmando que a decisão caberá exclusivamente ao presidente da República. “Há vários cenários, todo tipo de medida cabe em algum deles. Mas quem vai definir escala, montante, conveniência e data é o presidente.”
Diálogo como estratégia
Para o ministro, o foco imediato do governo brasileiro é obter uma resposta formal dos Estados Unidos às duas cartas enviadas desde maio. “Queremos entender o que de fato está em jogo, o que é importante para eles e para nós, e buscar uma solução.”
Mesmo diante da postura endurecida do governo Trump, que sinalizou pretender impor uma alíquota global e alegou “não ter tempo para negociar com todos os países”, Haddad revelou que o Brasil continuará defendendo o diálogo como caminho. “A relação entre os dois países sempre foi amistosa. Não há razão para que isso mude agora. Vamos continuar trabalhando para restabelecer essa relação com a dignidade que o povo brasileiro merece.”
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Diogo Zacarias/MF