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TDAH é mais do que distração: entenda o transtorno além dos estereótipos

O Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico...

O Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neurobiológico de origem genética que se manifesta na infância e acompanha o indivíduo ao longo da vida, segundo a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA). Caracterizado por sintomas como desatenção, inquietude e impulsividade, ele afeta entre 5% e 8% da população mundial, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas sofrem com o transtorno, segundo dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA). Embora seja reconhecido em várias partes do mundo desde o século XIX, a condição mental só teve sua descrição clínica mais precisa a partir da década de 1960 e ainda hoje é cercada por dúvidas e desinformação.

Considerado comum entre crianças e adolescentes, ele afeta entre 3% e 5% do público infantil. A médica Karina Guimarães, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência, alerta que os sintomas mais comuns, como hiperatividade motora e desatenção, costumam se manifestar precocemente.

O diagnóstico é essencialmente clínico e realizado por psiquiatras ou neurologistas. “Geralmente, os casos são identificados a partir dos 6 anos de idade, podendo se estender até os 12 anos. É fundamental que os ambientes frequentados pela criança também contribuam com relatórios sobre seu comportamento”, afirma.

Eduardo Pádua Garcia, estudante de publicidade de 22 anos, foi diagnosticado com TDAH aos 15. Ele conta que seu maior desafio é se manter concentrado. “Tanto nos estudos quanto no trabalho, às vezes me distraio com coisas sem irrelevantes e acabo perdendo a linha de raciocínio”, diz. Devido à condição, ele admite que, às vezes, se sente perdido durante conversas, mas afirma que nunca enfrentou dificuldades em suas relações, seja com amigos, família ou em relacionamentos amorosos.

O jovem relata que o acompanhamento psicológico e o uso de medicação foram “muito positivos”, embora atualmente não esteja mais seguindo nenhum dos dois tratamentos. Como estratégia para melhorar o foco, ele evita o uso de equipamentos eletrônicos durante suas atividades. “Costumo deixar o celular longe enquanto faço trabalhos da faculdade ou tarefas pessoais, para não me distrair com redes sociais ou jogos. Além disso, busco ambientes mais silenciosos e tranquilos para me concentrar melhor”, conta.

Eduardo também destaca que muitas pessoas não compreendem bem a condição e a confundem com distrações comuns do dia a dia. “É fundamental que saibam que o TDAH é uma condição real, e não apenas um esquecimento ou uma falta momentânea de atenção.”

Tratamento

Existem 3 tipos de TDAH — o predominante desatento, o predominante hiperativo e o combinado, tanto a desatenção quanto a hiperatividade. De acordo com Karina Guimarães, o tratamento deve ser multimodal, uma combinação de medicamentos, psicoeducação e apoio dos responsáveis.

O apoio da família é fundamental nesse processo, conforme destaca a psiquiatra. “Os responsáveis precisam compreender o que a criança está vivenciando e acolhê-la”, afirma. Entre as abordagens recomendadas está a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), realizada no Brasil exclusivamente por psicólogos. O uso de medicação depende da gravidade do caso e deve ser avaliado individualmente.

Além dos tratamentos convencionais, Guimarães orienta que os responsáveis limitem o uso de telas. Segundo ela, o consumo excessivo reforça um padrão de busca por recompensas rápidas, o que dificulta o desenvolvimento da resiliência e da capacidade de esperar por resultados a longo prazo.

A médica também aponta entraves no acompanhamento das crianças. Entre eles, relatórios superficiais enviados por escolas e outros ambientes sociais, e a escassez de profissionais especializados. “O sistema ainda não está preparado. Há crianças que esperam até dois anos por atendimento. São anos de sofrimento, desinformação, rotulação e baixa autoestima”, relata.

Nos primeiros cinco meses de 2025, o Ministério da Saúde registrou 445,7 mil atendimentos ambulatoriais relacionados a distúrbios da atividade e da atenção, sendo 310,4 mil deles em crianças de 4 a 14 anos. Em 2024, o total de procedimentos chegou a 1,06 milhão, com 719,8 mil atendimentos nessa mesma faixa etária. Os números correspondem ao total de atendimentos realizados, e não ao número de pacientes, pois um mesmo indivíduo pode ter sido atendido em múltiplas ocasiões.

O atendimento é oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Ao todo, o país conta com 6.508 pontos de atendimento. A pasta informou que, nos últimos três anos, ampliou em 38% os investimentos em saúde mental no SUS, com um acréscimo de R$ 620 milhões. O orçamento da área saltou de R$ 1,6 bilhão em 2022 para R$ 2,2 bilhões em 2024.

Aprendizado

A escola desempenha papel fundamental no apoio a jovens com TDAH, já que é o ambiente onde eles passam a maior parte do tempo. Muitas vezes, crianças com o transtorno são rotuladas como “difíceis” ou “danadas”, o que pode comprometer sua autoestima e gerar desinteresse pelos estudos. Profissionais alertam que é essencial que as instituições educacionais reconheçam o transtorno e adaptem suas práticas para atender às necessidades desses alunos.

De acordo com Mateus de Azevedo, coordenador educacional do Colégio Sigma, em Águas Claras, é fundamental estabelecer uma parceria colaborativa entre famílias e profissionais que acompanham o percurso do aluno. Essa integração eficaz é essencial para garantir o sucesso do processo educativo. “A família atua como uma ponte entre a escola e os profissionais especializados que acompanharão o aluno”, afirma.

A escola possui protocolos que buscam mapear a personalidade de cada aluno e o sistema de avaliação é adaptado às particularidades de cada estudante.”O progresso é avaliado de maneira personalizada, buscando indicadores específicos para cada aluno, sem necessariamente compará-lo ao restante da turma”, relata.

De acordo com o Ministério da Educação, a legislação brasileira orienta os sistemas de ensino estaduais e municipais a implementarem procedimentos pedagógicos e ações intersetoriais que garantam o acompanhamento individualizado de estudantes com necessidades educacionais específicas. Nas instituições privadas, essa responsabilidade cabe às respectivas entidades mantenedoras.

*Estagiário sob a supervisão de Rafaela Gonçalves

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Arquivo pessoa

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