O general da reserva Mario Fernandes admitiu, nesta quinta-feira (25/7), que foi o autor do “Plano Punhal Verde e Amarelo” que, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), visava o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — com o objetivo de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. A confissão ocorreu durante interrogatório na Corte das testemunhas do núcleo 2 da trama golpista.
A audiência foi conduzida por um juiz instrutor designado por Moraes. Mario Fernandes confirmou a autoria do material encontrado em seus dispositivos eletrônicos, mas minimizou o conteúdo e disse que se tratava apenas de uma análise individual. “Esse arquivo digital, que retrata um pensamento meu que foi digitalizado, é um estudo de situação. Uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, disse.
No depoimento, o militar tentou afastar a ideia de que o plano seria colocado em prática. Ele afirmou que o material foi impresso apenas para leitura pessoal e que logo em seguida o rasgou. “Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei”, alegou.
A denúncia da PGR indicou que o general Mario Fernandes ficou responsável “por coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas, em conjunto com Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, além de realizar a interlocução com as lideranças populares ligadas ao dia 8.1.2023”.
Câmara repassava a agenda e deslocamentos de Alexandre de Moraes ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, segundo as investigações. O ex-assessor da Presidência Filipe Martins também se tornou réu. Ele teria sido responsável por editar a chamada “minuta golpista” e apresentar os seus “fundamentos jurídicos” ao alto escalão das Forças Armadas em reunião em 7 de dezembro de 2022.
Monitoramento
No STF, o coronel Marcelo Costa Câmara alegou que não monitorava as autoridades, mas, sim, fazia um trabalho de “aproximação e ajuste de agenda” com diversas autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes. Ele insistiu que as informações que repassava eram solicitadas pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Segundo Câmara, o objetivo era evitar constrangimentos entre o ex-presidente e desafetos e, com isso, evitar problemas. O uso de codinomes, tais como ‘professora’ — em referência a Moraes —, era apenas um “jargão militar”, disse. Ele disse que as informações sobre a localização das autoridades eram obtidas por meio de notícias, redes sociais e até mesmo por terceiros.
O ex-assessor Filipe Martins negou ter feito uma das versões da minuta do golpe e disse que tomou conhecimento do documento pela imprensa. Ele também reiterou que não esteve na reunião com aliados do ex-presidente em 7 de dezembro de 2022, que visava tratar sobre detalhes da trama golpista.
Na audiência, criticou a delação de Mauro Cid e se declarou um “preso político”. Filipe Martins teve prisão preventiva decretada por Moraes, após o seu advogado, Eduardo Kuntz, trocar mensagens com o delator, que usava um perfil falso para repassar o que havia dito para a Polícia Federal.
O núcleo 2 é acusado de gerenciar as ações da tentativa de golpe, por intermédio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — que fechou estradas no Nordeste e impediu que eleitores chegassem às urnas para votar — e por meio da fiscalização dos locais que mais tinham votos para o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além do monitoramento de autoridades.
O presidente do Instituto Voto Legal, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, negou ter vazado informações sobre “fraude nas urnas” durante o processo eleitoral. Ao Supremo Tribunal Federal, ele alegou que era responsável apenas por uma “auditoria técnica” contratada pelo PL e não tratou de “fraudes” para tentar deslegitimar as eleições de 2022 em favor de Jair Bolsonaro.
“Tratamos de problemas técnicos e não falamos de fraude em hipótese alguma. Pela seguinte razão: não cabe ao auditor identificar causas das desconformidades encontradas”, declarou Carlos Moretzsohn à juíza auxiliar Luciana Sorrentino, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação do golpe.
“No nosso relatório não existe desinformação, apenas fatos constatados e documentados sobre o que estava presente na urna”, ele enfatizou. (Com Agência Estado)
Por Revista Plano B
Fonte Correio Braziliense
Foto: Isac Nóbrega/PR