Outros posts

Trump agride países para obrigá-los a negociar, dizem analistas

Um dia depois de Donald Trump elevar em 50% as tarifas sobre os produtos brasileiros,...

Um dia depois de Donald Trump elevar em 50% as tarifas sobre os produtos brasileiros, analistas consultados pelo Correio alertam que há uma estratégia muito bem definida do presidente dos Estados Unidos. Segundo eles, a tática é a da barganha e da narrativa agressiva e dura para, em seguida, sentar-se à mesa de negociação e buscar um meio-termo. Eles são favoráveis ao diálogo para evitar o acirramento da crise, que causará prejuízos incalculáveis à economia nacional. Da mesma forma, veem como alternativa a busca por apoio de fóruns multilaterais contra o impasse com os EUA, além de recomendarem a diversificação de mercados com vistas a diminuir a relevância do mercado norte-americano para o Brasil.

“O verdadeiro risco para as relações bilaterais não está na resposta brasileira, mas, sim, no tarifaço proposto pelos EUA, que ameaça desestabilizar um comércio equilibrado e, de maneira mais profunda, as relações históricas entre os países. A imposição de barreiras unilaterais compromete cadeias produtivas, encarece produtos e prejudica trabalhadores”, ressaltou Alan Camargo, assessor internacional, analista político e professor universitário.

Porém, os especialistas reiteram a importância de marcar posição em defesa da soberania nacional, impedindo que Trump interfira em temas de política interna, mas mantendo o tom da conciliação e da técnica. Eles advertem que os EUA absorvem parcela expressiva das vendas externas brasileiras em vários setores, inclusive no ramo digital, pois empresas, como Amazon, Microsoft e Google mantém operações extensas no país, em nuvem e em comércio eletrônico. Uma eventual retaliação regulatória brasileira ou atraso em licenças de data centers pode afetar resultados globais relevantes.

“Há um falso argumento de ‘reciprocidade’, invocado pela administração Trump, juridicamente insustentável e materialmente equivocado por si só, dado que a OMC (Organização Mundial do Comércio) não exige equilíbrio nas relações bilaterais entre os Estados- membros”, observou Leonardo Pinheiro, professor de direito empresarial, constitucional e internacional.

Os analistas defendem a tática da moderação, uma vez que a carta de Trump, devolvida para o governo norte-americano, foi redigida em tom duro. Afirmam que a experiência recente mostra que a opção silenciosa aumenta as chances de adiamento ou de revogação gradual da tarifa, definindo exclusões de produtos.

“O histórico de Trump mostra uma estratégia bastante conhecida, como a ‘técnica do bode na sala’, brincou Marcelo do Valle, doutor em política científica e professor de relações internacionais do Ceub. “Ele começa qualquer negociação apresentando termos muito duros, até mesmo absurdos, para forçar a outra parte a fazer mais concessões do que faria em uma situação normal. Ele já usou essa abordagem em negociações com a China”, acrescentou.

Valle, Camargo e Pinheiro afirmaram que o modo de agir do governo Trump segue uma espécie de cartilha bem definida e clara: há uma retórica para os seguidores e aliados, enquanto o pragmatismo rege os interesses econômicos e comerciais. Baseados nessa avaliação, reiteram a necessidade de retomar o fôlego, deixando as emoções de lado.

“Embora a retórica de confronto seja uma marca registrada de Trump, sua política externa é guiada por pragmatismo. A decisão de manter ou reverter as sobretaxas dependerá, sobretudo, do impacto econômico interno nos EUA”, disse Camargo.

Porém, Pinheiro ressaltou que não se pode relevar ameaças nem ingerências à soberania. “Constituiu evidente afronta a diversos princípios constitucionais, como o da independência nacional (soberania), da não-intervenção e da autodeterminação dos povos — fundamentos basilares do direito internacional”, observou.

Para Valle, além da via diplomática, a alternativa viável para o Brasil é a diversificação de mercados, reduzindo, lentamente, o peso dos EUA na balança comercial. “O Brasil tem conversado com países como o México sobre acordos comerciais e, no âmbito do Brics, tem buscado alternativas para reduzir a dependência das exportações para os EUA”, lembrou.

Por Revista Plano B

Fonte Correio Braziliense       

Foto: BBC Geral

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp