Paris em Alta: o luxo agora pensa, respira e emociona
De 7 a 10 de julho, Paris reafirma seu papel como capital mundial da moda com a realização da Semana de Alta-Costura verão 2025. A temporada impressionou não apenas pelo requinte, mas por transformar o ato de vestir em manifestação artística, sensorial e até biológica. Com coleções que dialogam com o surrealismo, a ciência, a ecologia e o afeto, a alta-costura assume uma nova responsabilidade: a de emocionar e refletir o tempo em que vivemos.
Schiaparelli: o surrealismo como armadura
No Petit Palais, a Schiaparelli abriu a temporada com a coleção “Icarus”, desenhada por Daniel Roseberry. A inspiração no mito de Ícaro guiou uma coleção ambiciosa, marcada por silhuetas esculturais, corsets arquitetônicos e uma rica tapeçaria de pérolas, penas e bordados. Elementos como fitas históricas de Lyon, datadas dos anos 1920, foram ressignificados em peças contemporâneas. Uma celebração do voo alto — sem o risco da queda.Iris van Herpen: quando a roupa respira
A designer holandesa Iris van Herpen provocou espanto e admiração ao apresentar um vestido feito com 125 milhões de algas bioluminescentes vivas, em colaboração com cientistas. A peça emitia luz própria, reagindo ao ambiente. Como um organismo, respirava, se movia e emocionava. Um marco entre tecnologia e poesia têxtil. A estilista reafirma sua posição como vanguardista absoluta da moda-ciência.
Giambattista Valli: romantismo em plena flor
O italiano Giambattista Valli foi na contramão da alta tecnologia e trouxe de volta o romance em estado puro. Vestidos de tule volumoso, florais delicados, laços e babados desfilaram como se saídos de um sonho barroco. A paleta suave contrastava com estruturas dramáticas, em um equilíbrio perfeito entre leveza e presença.
O encerramento com toque brasileiro
No último dia, o suíço Kevin Germanier apresentou a coleção “Les Globuleuses”, em colaboração com o brasileiro Gustavo Silvestre, fundador do Projeto Ponto Firme. A parceria marcou o encerramento da semana em tom vibrante e afetivo. Peças exuberantes foram criadas a partir de crochê, miçangas, pétalas costuradas à mão, lápis reaproveitados e materiais reciclados, unindo alta-costura e inclusão social.
Silvestre, que capacita pessoas em situação de vulnerabilidade por meio do fazer manual, levou à passarela a alma do Brasil profundo: criativo, resistente e transformador.
“O que começou como um projeto social virou arte couture. Ver o Brasil encerrar Paris é histórico.”
— Gustavo Silvestre
Uma temporada que pensa, propõe e emociona
A Alta-Costura 2025 mostrou que a beleza não está apenas na execução técnica impecável, mas na intenção por trás da criação. Cada desfile foi um manifesto: pelo planeta, pela memória, pelo sonho, pela inovação, pela dignidade. Em tempos acelerados, vestir-se pode — e deve — ser um ato consciente, simbólico e profundo.
Paris fez do luxo um veículo de ideias. E o Brasil, desta vez, fechou as cortinas com a leveza de quem sabe costurar futuro com alma.





