Pesquisas desenvolvidas no Distrito Federal agora fazem parte da história da agricultura espacial. Amostras de batata-doce e sementes de grão-de-bico produzidas por cientistas da Embrapa Hortaliças, foram levadas ao espaço no dia 14 de abril, durante a missão suborbital NS-31 da Blue Origin. O voo, que transportou a cantora Katy Perry e mais cinco mulheres formou a primeira tripulação espacial exclusivamente feminina.
A missão espacial de Katy Perry transportou exemplares de batata-doce Beauregard e Covington, além das sementes do grão-de-bico BRS Aleppo, desenvolvidas nos programas de melhoramento genético da Embrapa.
A batata-doce e o grão-de-bico foram escolhidos porque contém vantagens agronômicas e nutricionais, levando em consideração os desafios tecnológicos e científicos de cultivar plantas no espaço. De acordo com a Embrapa, são espécies adaptáveis e resilientes, de rápido crescimento e fácil manejo, que conseguem se desenvolver bem em condições adversas.
Como contribuição para a dieta de astronautas, a batata-doce é uma fonte de carboidratos de baixo índice glicêmico e folhas oferecem uma alternativa de consumo como proteína vegetal. Já a escolha do grão-de-bico considera o alto teor de proteínas. A pesquisa com grão-de-bico busca desenvolver plantas mais produtivas, com menor altura e ramificações mais eretas, um porte mais adequado às limitações do ambiente espacial.
A pesquisa com essas duas espécies em condições espaciais integra as ações da Rede Space Farming Brazil, parceria entre a Embrapa e a Agência Espacial Brasileira (AEB). A iniciativa reúne as principais pesquisas no país sobre a produção de alimentos em ambientes fora da Terra, submetidos a alta radiação e baixa gravidade.
A inclusão do material brasileiro no voo foi realizada após um convite do professor Rafael Loureiro, da Winston-Salem State University (WSSU), Carolina do Norte, do Estados Unidos (EUA). A astronauta que conduzirá os experimentos com as sementes brasileiras, Aisha Bowe, é ex-cientista de foguetes da Agência Espacial Norte-americana (Nasa) e mantém parceria com a Odyssey, empresa de operações e ciências espaciais da universidade que viabilizou os experimentos na missão da Blue Origin. Aisha foi uma das tripulantes da missão espacial 100% feminina que contou também com a participação de Katy Perry.
A pesquisa em agricultura espacial deve acelerar o melhoramento genético e trazer inovações para a agricultura praticada na Terra, especialmente com o avanço das mudanças do clima. Além disso, espera-se alcançar diversos impactos, os chamados spin-offs, capazes de promover saltos no conhecimento agronômico brasileiro e gerar novas tecnologias.
A idealização do experimento foi feita por pesquisadores de diversas instituições participantes da rede. Durante a realização do voo, as plantas de batata-doce e sementes de grão-de-bico ficaram expostas por quase cinco minutos à microgravidade, uma condição que afeta a expressão de alguns genes. Agora, já de volta para a Terra, os cientistas da Rede irão realizar uma série de estudos com as amostras, após confirmar sua viabilidade.
Por Davi Cruz do Correio Braziliense
Foto: AFP / Reprodução Correio Braziliense