O Eixão do Lazer, que atravessa as asas do Plano Piloto aos domingos, virou tradição entre os brasilienses. Além do espaço aberto para corredores e ciclistas, o ambiente também é povoado por feiras e rodas de música, que animam as pessoas com gêneros como o choro, o pagode, o axé e o jazz. Grupos como o Choro no Eixo, na altura da SQN 207, atraem amantes da boa música e até os que passeiam pela rua, que acabam curiosos pelo ritmo e energia que vêm das tendas.
Breno Alves, que toca pandeiro no Choro no Eixo, explica que a iniciativa começou no fim da pandemia, com o grupo sentindo que a população precisava desse espaço de lazer. Hoje, o local se tornou um ponto de encontro para quem aprecia a música, com pessoas se reunindo para dançar e curtir o som do grupo.
“Todo domingo, a gente está aqui, a partir do meio-dia, e as pessoas vêm em peso. Nós temos um público tradicional, que vem sempre, mas a gente vê também uma chegada muito grande de pessoas que estão dando uma passeada aqui, no Eixão e, de repente, se encantam pelo projeto”, explica o pandeirista.
Cidade eclética
Convidado frequente do Choro no Eixo, o instrumentista Pablo Fagundes é apaixonado pelo estilo musical, o qual ele considera o mais tradicional da cidade. “Brasília é conhecida como a Capital do Rock. Mas isso é um cenário muito antigo, que não é a realidade de hoje. Hoje, Brasília é a Capital do Choro. A cultura do Choro está aí em tudo que é esquina, tudo que é bar da cidade”, afirma o músico, que toca harmônica.
Brasiliense e muito orgulhoso de sua cidade, o artista diz que as apresentações no Eixão são os eventos mais democráticos da capital. Os espectadores que curtem a música do grupo podem levar coolers com bebida e comida, ou aproveitar os food trucks que cercam a roda de choro. Segundo ele, essa acessibilidade é importante para trazer a cultura ao cotidiano das pessoas e desenvolver uma identidade do povo brasiliense.
O Axé no Eixo, também nas proximidades da SQN 207, se faz presente nos domingos, com rodas de diversos gêneros musicais. Cláudio Lopes, ou Claudinho Karamba, é integrante do grupo de pagode Rapaziada Nota Mil, que toca frequentemente no evento. “Filho de Brasília”, como ele mesmo se descreve, Claudinho nasceu na cidade um ano depois da fundação e, hoje, se mostra orgulhoso de contribuir para a cultura local.
“Nós adoramos esse espaço. Tem gente de todo o DF vindo para cá. Semana passada, tinha até um grupo grande de Valparaíso também. A movimentação tem aumentado bastante com a diminuição das chuvas e a expectativa é continuar melhorando. Nós não temos uma estrutura tão grande para proteger todo mundo da chuva, então agora, com esse clima gostoso, a galera vem”, acredita.
Ele ressalta que a relação de Brasília com a arte e a cultura é muito boa, dizendo que hoje os grandes grupos de pagode no mercado são da capital, como o Menos é Mais e o Di Propósito. “Há muito tempo nós estávamos lutando para ter um grupo de pagode daqui se destacando lá fora. Hoje, graças a Deus, estamos aqui para ver Brasília virar a cidade do pagode e do choro”, celebra.
Acolhimento
A beleza da arte brasiliense atrai até os moradores que vêm de outras cidades. Cristiane Bernardes e Rodrigo Santana vêm de São Paulo e Salvador, respectivamente, mas garantem que a cultura no DF não deve nada às ricas tradições das cidades onde nasceram. A paulistana diz que procura o Choro no Eixo quase todos os domingos, onde dança e aproveita o calor da cidade.
“Praticamente todo domingo, desde que começou o projeto, venho aqui no Choro no Eixo. Eu sou paulistana e me apaixonei pelo choro quando vim para Brasília, há 22 anos. A cultura do choro aqui é muito forte, é incrível. Eu costumo encontrar meus amigos e sair para um sambinha, estou sempre buscando algo. Hoje, eu me sinto brasiliense, é a cidade da minha vida”, afirma Cristiane.
Rodrigo compartilha com Cristiane o amor pela música e a dança. O baiano mantém suas raízes, indo com os amigos ao projeto Axé no Eixo para curtir um show de pagode. Ao chegar, caiu na dança com outra mulher que curtia a música e divertiu outros espectadores que acompanhavam o show. Morando em Brasília há mais de duas décadas, ele se declara à sua atual casa e ao que encontra no centro do país.
“Quando eu penso em Brasília, penso nisso aqui. Eu penso em cultura, penso em lazer, penso em qualidade de vida. Brasília é isso. É extremamente importante o fomento com relação ao transporte público, que agora tá liberando no fim de semana e nos feriados, para inserir a sociedade nesse contexto cultural e de lazer que Brasília propicia”, afirma o advogado baiano, adotado pela capital brasileira.
Lazer
Assim como Rodrigo, vários brasilienses passam pelo asfalto do Eixão aos domingos e são atraídos pelo som que vem do gramado entre a via e os Eixinhos. Daniela e Ramon Batista gostam de deixar o Guará, onde moram, para curtir um domingo de sol na rua que corta as asas do Plano Piloto ao meio. Os dois passeavam com patinetes elétricos quando se encantaram ao ouvir o som do Choro no Eixo.
“A gente veio para curtir e paramos para apreciar o chorinho, que gostamos bastante. A gente vem para o Eixão pelo menos umas duas vezes por mês. A qualidade de vida aqui em Brasília é muito boa em relação a outros lugares, tanto em questão de segurança, quanto da quantidade de verde, que na maioria das outras cidades não tem mais. Ter esses lugares públicos como o Parque da Cidade e o Eixão é muito bom, e é importante ocupar esses espaços abertos com cultura ao ar livre, porque permite que qualquer pessoa possa vir”, diz Daniela.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
Por Henrique Sucena do Correio Braziliense
Foto: Henrique Sucena / Reprodução Correio Braziliense