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quinta-feira, abril 24, 2025

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Hortas comunitárias do DF tornam-se espaço de acolhimento e de cuidado

Na horta comunitária do Hospital Universitário de Brasília (HUB), L2 Norte, crescem muito mais...

Na horta comunitária do Hospital Universitário de Brasília (HUB), L2 Norte, crescem muito mais que frutas e vegetais. As amizades que são semeadas e colhidas mudam a vida corrida de muitos funcionários do hospital que recebe, diariamente, pessoas acometidas pelas mais diversas doenças. O projeto, coordenado pela chefe do Setor de Hotelaria do HUB, Maria Da Conceição Portela, de 56 anos, reúne voluntários do hospital para plantar e colher na área verde, cuidada há mais de um ano para a iniciativa.

“A ideia é interagir com cada funcionário e também com o paciente, principalmente os que vêm da área psiquiátrica, para poder desfrutar desse espaço verde. Pegar no solo, plantar as sementes e mudas e, depois, colher os frutos. É como uma terapia”, ressalta Conceição. Segundo ela, a horta reúne mais de 100 tipos de ervas aromáticas, verduras e frutas. Segundo a coordenadora, a quantidade de pessoas no grupo é bastante variada. “Tem dias que aparecem mais de 100 pessoas aqui para colher. Para plantar é um pouco menos, mas sempre ficamos felizes quando mais gente vem. Recebemos uma quantidade boa de funcionários, que realmente metem a mão na massa, ou melhor, na terra!”, conta Conceição.

Quando a horta começou, contou com o apoio da equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que ajudou a estudar e preparar o solo para que as primeiras mudas fossem plantadas. Hoje, as pequenas árvores cresceram e, de seus frutos, os funcionários fazem sucos, compotas e lanchinhos. Nos dias de colher, os voluntários levam para casa um kit de grande variedade de produtos. Entre eles, milho, mandioca, melancia, mamão, acerola e hortaliças. Além disso, durante o dia a dia no hospital, também passam na horta para buscar capim-santo, hortelã, entre várias outras ervas aromáticas para fazer chás que acalmam um pouco o cansaço do trabalho em um grande hospital. 

Viviane Torres, 45, é ouvidora do hospital e, desde o início do projeto, consegue ver em sua rotina a diferença que o espaço e o convívio com os outros voluntários faz. “É um local de paz. Desde o princípio, eu falei que aqui, como a gente trabalha em ambiente hospitalar, é um ambiente de muito adoecimento mental e psicológico. Para mim, aqui (na horta) é um espaço realmente de terapia. A gente vem, fica aqui no silêncio, em contato com a natureza. É muito gostoso, faz toda a diferença”, diz Viviane. A ouvidora não abre mão de passar na horta. “Acabo vindo todo dia, ver as plantas crescendo, o cheiro das ervas aromáticas e, também, ver amigos. Essa iniciativa acabou aproximando nós funcionários”, completa. 

Plantando cura

Aos 81 anos, todo dia Ikuyo Nakamura acorda, toma seu café da manhã e vai até a Horta Comunitária do Parque do Sudoeste para cuidar de suas plantas. Enfermeira aposentada, ela diz que cuidar é sua missão no mundo e, por isso, planta com todo cuidado cada mudinha do seu jardim. Além de flores e ervas medicinais, ela também rega, de carinho, as pessoas, que passam a participar do projeto, muitas vezes, como uma forma de cura. 

“A gente conhece pessoas incríveis. Há muitas pessoas procurando ajuda psicológica e, por intermédio da planta, a pessoa vai melhorando, fica menos estressada, menos apreensiva. Tem dias que acabo nem trabalhando, fico mais ouvindo as histórias dos outros e acolhendo”, conta Ikuyo. “Brasília é a cidade do concurso. Muitas pessoas passam nas provas, largam suas cidades e vêm sozinhas para trabalhar ou trazem os pais que vêm acompanhar os filhos. Eles não conhecem ninguém, muitas vezes se sentem sozinhos. É uma forma de criar laços”, completa.

A horta, que hoje é gerenciada por Ikuyo, começou com a ideia de outro morador do Sudoeste, que não mora mais no bairro. “Aqui era uma esquina para jogar entulhos. Um morador que teve a ideia de iniciar a horta e começou a limpar o terreno. Acho ele um visionário. No ano seguinte, eu estava aposentada e comecei a cuidar do espaço”, relata a idosa, que conta como o projeto foi crescendo com a passagem de várias pessoas. “Hoje em dia temos cerca de 10 voluntários, mas há outras 60 pessoas que atualmente demonstram interesse em participar. Sempre convido para vir conhecer e ver como é. Quem decide ficar, fazemos um batismo, que é uma foto segurando uma enxada”, brinca Ikuyo.

Nas escolas 

O Projeto Germinar traz a horta comunitária para o Centro de Ensino Especial 2, na 612 Sul. Criada pelo professor de geografia,Georlando Alves Menezes, em 2005, a horta visa à conscientização ecológica para as escolas da rede pública e passar a mensagem de preservação e sustentabilidade do meio ambiente para gerações futuras. O professor é natural do Ceará e tem uma família de agricultores, o que aumentou seu interesse pelo projeto. 

A horta conta com a plantação de hortaliças, frutas e ervas medicinais e é utilizada para atender às necessidades da escola. “O projeto também contribui para a complementação alimentar da merenda escolar. A merendeira pode utilizar os produtos cultivados na horta, garantindo uma alimentação mais fresca e saudável para os alunos. Aqui, não usamos agrotóxicos, apenas métodos naturais de controle de pragas”, relata Georlando. 

Os alunos podem participar do cultivo da horta e, segundo o professor, eles se interessam pelo meio ambiente e demonstram interesse em participar das atividades. “Os alunos têm a oportunidade de ver coisas bonitas crescendo e usufruir do espaço rural, o que é um privilégio para eles, especialmente para aqueles com limitações. Aqui, eles podem transitar com segurança e se beneficiar de uma saúde mental positiva, observando a natureza e aprendendo sobre a importância da preservação”, finaliza o professor. 

Por Bruna Pauxis, Arthur Monteiro e Mariana Reginato do Correio Braziliense

Foto: Ed Alves/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense

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