O governo brasileiro reagiu ao ‘tarifaço’ anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira (2/4). Em nota, assinada pelo Itamaraty, o governo lamentou a decisão do republicano de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos.
De acordo com o Itamaraty, a imposição de taxas adicionais para produtos brasileiros importados pelo Estados Unidos “viola compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio”.
O comunicado do governo brasileiro afirma que o tarifaço de Trump “impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA”. Segundo a nota, a nova tarifa impactará direto sobre todas as exportações de bens do Brasil para os Estados Unidos.
Relação comercial
Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.
Em relação a produtos, no ano de 2024, de acordo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o principal produto exportado pelo Brasil aos Estados Unidos foi petróleo, no valor de US$ 5,8 bilhões.
O segundo produto brasileiro mais comprado pelos Estado Unidos é semimanufaturados de ferro ou aço, somando US$ 2,8 bilhões em vendas. O terceiro produto brasileiro mais comprado pelos EUA em 2024 são aviões, com US$ 2,4 bilhões.
Parlamento reage à tarifaço
O regime de urgência para análise da Lei da Reciprocidade Econômica — Projeto 2.088/2023 — foi aprovado pela Câmara dos Deputados nesta quarta por 361 votos a favor, 10 contrários e duas abstenções.
O texto permite ao Brasil adotar sanções comerciais contra países que impuserem barreiras aos produtos nacionais, prejudicando sua competitividade no mercado externo. O governo federal avalia a proposta como essencial para fortalecer a posição do Brasil em negociações internacionais.
Confira a nota do Itamaraty na íntegra:
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 2 de abril, de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA.
Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.
Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a “reciprocidade comercial” não reflete a realidade.
Em defesa dos trabalhadores e das empresas brasileiros, à luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo em que se mantém aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes, o governo brasileiro avalia todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais.
Nesse sentido, o governo brasileiro destaca a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, já em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Por Francisco Artur de Lima do Correio Braziliense
Foto: Seth Wenig/AFP e Ricardo Stuckert/PR / Reprodução Correio Braziliense